São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 1995
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Dupla ameaça

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Não sei se o leitor já ouviu falar de Cláudia Costin. Creio que, para a maioria, é uma estranha. Por isso direi duas palavras sobre ela.
É alta e aloirada; mãe de dois filhos; veste-se com esmero; transmite serenidade. Prometi duas palavras e já anotei mais de dez.
Só para concluir: é secretária-executiva do Ministério da Administração, a segunda autoridade na hierarquia da pasta, abaixo de Bresser Pereira.
Imagine o leitor que nos últimos dias a rotina de Cláudia Costin mudou. Houve dias em que passou a chamar mais atenção. Sua figura foi como que realçada pela companhia de dois estranhos.
Eram agentes da Polícia Federal, destacados para dar-lhe segurança. E por quê? Ela recebeu ameaças de morte pelo telefone, extensivas a seus filhos.
Poderia ter ignorado os telefonemas. Em outros tempos talvez o fizesse. Mas a Esplanada ainda não superou o trauma da bomba no Itamaraty.
Chegamos, afinal, ao assunto de hoje. Por ordem de Bresser, Cláudia Costin mexeu num vespeiro. Suspendeu o pagamento dos salários de 1.050 funcionários públicos lotados no Amapá.
Promovido a Estado pela Constituição de 88, o Amapá tem o grosso de sua folha de pessoal bancado pela União. O Congresso determinou que Brasília deveria continuar cobrindo os contracheques dos funcionários contratados antes de outubro de 88, data em que a nova Constituição foi promulgada.
O problema é que, desde então, uma legião de novos funcionários se infiltrou nas repartições do Amapá. E a conta vem sendo indevidamente paga pelo Tesouro.
O TCU pediu providências. E Bresser mandou suspender o pagamento dos 1.050 supostos penetras. A terra abriu-se sob os alicerces da pasta da Administração. O governador João Capiberibe (PSB) ameaça acampar diante do Planalto.
O presidente do Congresso, José Sarney, eleito pelo Amapá, estrilou. Ontem, a seu pedido, Bresser decidiu conceder prazo até 14 de janeiro para que o governo do Amapá apresente provas de que os funcionários não caíram de pára-quedas na folha.
Até lá, a paz da família Costin e a integridade dos cofres de Brasília continuarão sob séria ameaça.

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