São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 1995
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Presidente orientado

A volta do presidente FHC de seu giro pelo Oriente poderia ensejar, como resposta ao "Apesar de você" recantado pelo presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães, um antigo sucesso de Gilberto Gil, o "Se oriente, rapaz".
Orientar-se, no caso, como sinônimo de orientalizar-se: é célebre a tradição oriental de negociar e buscar o consenso antes de qualquer decisão precipitada.
Ao mesmo tempo, vem também do Oriente uma vertente cultural mais agressiva, violenta até, em oposição à negociação contemplativa. Do samurai ao imperador, passando pela gerontocracia chinesa, há no Oriente uma tradição de força e de respeito à autoridade.
Orientado ou orientalizado, o presidente deverá combinar com alta dose de diplomacia a vertente negociadora tanto quanto a executora. Há, de fato, uma crise de poder instalada. Ela exige portanto uma renegociação da aliança política que ganhou as eleições, uma reacomodação.
Entretanto, também não há tempo para procrastinações. Está em jogo nada menos do que a credibilidade dos principais executores da política econômica.
Não se trata, afinal, apenas de uma questão de credibilidade pessoal ou política. Estão em jogo decisões que podem significar ganhos ou perdas patrimoniais na casa do bilhões de reais.
Da empresa que vai à falência ao banco que recorre ao redesconto até quebrar estão em jogo não apenas a habilidade instrumental das autoridades econômicas, mas essencialmente as opções políticas inerentes a essas várias alternativas possíveis de destruição de riquezas e de empregos.
É preciso ainda, e sobretudo, encontrar uma política econômica capaz de assegurar a estabilidade e ao mesmo tempo fazer com que a criação seja mais vigorosa e disseminada que a destruição.
Resta esperar que o presidente, ao pisar de novo no Ocidente, não fique rapidamente desorientado.

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