São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Lições do Chacrinha
CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO - O conflito PFL-FHC terminou na mais fulminante pizza da história das crises brasileiras: em 20 minutos de conversa, pouco mais ou menos, Luís Eduardo Magalhães e o presidente selaram a paz ou, ao menos, um armistício.É o que venho dizendo faz tempo: já não se fazem crises como antigamente. Em todo o caso, há lições a extrair do episódio, uma delas exposta pelo presidente do PFL, Jorge Bornhausen. Refere-se ao aspecto da comunicação presidencial, que, nos tempos modernos, transformou-se em ação política de relevância. Bornhausen critica o fato de que o presidente passou um tempão na Ásia, "mas a população brasileira ficou sem saber o que ele foi fazer lá fora, pois todas as notícias divulgadas sobre a viagem davam ênfase a problemas políticos internos". Tem razão. E a culpa é do presidente. Antes de assumir, na viagem particular a Moscou, FHC aceitou convite para almoçar com o pequeno grupo de jornalistas que cobria a sua visita para discutir, especialmente, a comunicação social do governo. Disse que queria evitar as cenas de cerco de repórteres ao presidente, com aquela selva de microfones e gravadores, com os logotipos das respectivas emissoras em volta de sua boca (quando não dentro dela). Disse também que queria um porta-voz que estivesse perfeitamente a par dos assuntos do governo e pudesse, por isso, levar informações fidedignas aos jornalistas, sem que estes precisassem, a todo instante, aporrinhar a vida do chefe. O presidente só falaria ao público em coletivas ou pronunciamentos pela TV, assim mesmo apenas quando as circunstâncias o exigissem. Tudo muito bom, muito bonito. Até assumir. Aí, caiu-se no de sempre. O presidente acumula as funções de presidente, coordenador político e porta-voz de si próprio. É inevitável, quando está viajando, que os jornalistas lhe perguntem sobre Sivam, pasta rosa, Luís Eduardo, ACM etc. Até porque as relações Brasil/Malásia não parecem capazes de comover o público. Dá no que está dando. Se Chacrinha achava que quem não se comunica se "estrumbica", quem se comunica demais pode se "estrumbicar" ainda mais. Texto Anterior: Presidente orientado Próximo Texto: A meta agrária Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |