São Paulo, sábado, 23 de dezembro de 1995
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Verão engarrafado

ANTONIO CARLOS DE FARIA

RIO DE JANEIRO - O prefeito César Maia quer limitar o número de carros que serão emplacados na cidade no próximo ano. O desejo do prefeito é uma tentativa de se livrar do desgaste causado pelas suas próprias ações.
Maia expandiu em todas as direções os antigos focos de congestionamento ao abrir várias frentes de obras cosméticas na cidade, quase simultâneas e num ritmo que parece esperar as vésperas das próximas eleições para a inauguração.
Um amigo cronometrou em 50 minutos o tempo que levou para percorrer a distância de quase dois quilômetros entre o estádio do Flamengo e o acesso do túnel Rebouças. Seu martírio é o calvário atual do carioca.
Pressionado pelas críticas, o prefeito reage querendo legislar sobre o número de carros em circulação, atribuição do governo do Estado.
Aponta os motivos alheios para fugir de suas próprias responsabilidades. No lugar de solucionar problemas, César Maia conseguiu acabar com a familiaridade que o morador do Rio tinha com os mesmos.
Antes todos sabiam quais eram os pontos de estrangulamento da cidade, velhos conhecidos, como são aqueles parentes chatos que ninguém tem culpa de ter na família. Sabendo quais eram e em que hora seriam mais frequentes, o carioca podia fugir deles ou esperar resignado.
Agora, os congestionamentos estão por toda parte. As obras do Rio Cidade, projeto para remodelação de ruas e praças, estão criando funis para o trânsito. Conforme trechos vão ficando prontos, fica a sensação de que não valeu o sacrifício de suportar todos os transtornos que causaram.
Além das obras, ou talvez em consequência delas, o sistema de sinais que antes funcionava precariamente hoje parece trabalhar para prejudicar o tráfego.
Há alguns meses era possível transitar pela avenida Atlântica do começo ao fim aproveitando a onda verde da sinalização. Atualmente, ninguém consegue essa façanha, há paradas obrigatórias a cada dois ou três sinais.
Todo político tem um instinto de sobrevivência eleitoral e procura guiar suas ações de forma a que não lhe falte a simpatia do eleitor. César Maia parece contrariar essa lei e procura se autopromover por meio de bravatas.

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