São Paulo, quinta-feira, 28 de dezembro de 1995 |
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Tudo é possível com Edmundo no Timão
JOSÉ GERALDO COUTO
Deixando de lado os incidentes extracampo -que são problemas do jogador e, eventualmente, da polícia-, trata-se de pensar nas consequências futebolísticas e no impacto emocional de sua vinda. Como o time absorverá sua entrada? Como a Fiel reagirá? Como as torcidas adversárias se comportarão? Nenhuma dessas perguntas tem resposta fácil. É óbvio que um jogador habilidoso, vigoroso, rápido e inteligente como Edmundo tem, em princípio, lugar em qualquer time do mundo. Na melhor hipótese, ele dará ao Corinthians mais opções de ataque e maior ofensividade. Hoje, com a irregularidade de Souza, que alterna brilho e apatia, e as limitações técnicas de Fabinho e Clóvis, o Timão depende quase exclusivamente da inventividade de Marcelinho para fugir às jogadas previsíveis e à correria. Só que o futebol não é só uma soma de habilidades técnicas: é um jogo coletivo em que cada jogador molda suas habilidades ao restante da equipe, no interesse comum. É um esporte maravilhoso justamente porque permite que a criatividade individual sirva ao desempenho coletivo. Os grandes craques sempre "jogaram para o time": pense-se por exemplo em Pelé no Santos, em Zico no Flamengo, em Ademir da Guia no Palmeiras etc. O apogeu desses jogadores coincidiu com a era de ouro de seus clubes. Mas, para que haja essa interação entre o craque e seus companheiros, é necessário, obviamente, que aquele tenha o chamado "espírito de equipe". Edmundo já mostrou que não tem. O mesmo individualismo feroz que o faz agredir jornalistas, árbitros e adversários o leva também a virar as costas ao interesse coletivo. Em algumas partidas em que atuou na seleção, por exemplo, Edmundo parecia menos interessado na vitória brasileira que em seu próprio brilho pessoal. Se um companheiro fazia o gol em vez de lhe passar a bola, ele ficava emburrado. Em times de torcida numerosa e apaixonada, como o Corinthians, onde a voltagem emocional é alta, a cobrança de empenho e "raça" costuma ser grande. Resta esperar que Edmundo não confunda "raça" com demonstrações de selvageria e agressões ao adversário. A galera corintiana saberá distinguir a diferença. Quanto ao comportamento das torcidas adversárias, tudo indica que a instabilidade emocional de Edmundo será usada por elas como "calcanhar de Aquiles" do Timão. Como reagirá o craque quando a torcida alviverde -a mesma que ainda ontem delirava exaltando-o como "animal"- xingá-lo agora de "assassino"? Talvez Edmundo nos surpreenda a todos e mostre-se capaz, como Diego Maradona, de caminhar sobre as brasas e renascer das cinzas. Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna de Matinas Suzuki Jr. Texto Anterior: Jogador não aceita salário mais baixo Próximo Texto: Retrospectiva 95 Índice |
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