São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Globalização desafia poder do Estado nacional

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

Se o ser humano demora a adaptar-se à globalização, é natural que as instituições internacionais, afinal formados por seres humanos, também o façam.
Fica então "um déficit estrutural na economia mundial, tanto em termos de elaboração de políticas como de sua execução", diz o irlandês Peter Sutherland, diretor-geral da recém-criada Organização Mundial do Comércio, exatamente o xerife da globalização.
A carência institucional é igualmente apontada pelo presidente da Alemanha, Roman Herzog:
"Faltam ainda padrões institucionais e visões empresariais capazes de inspirar confiança nos indivíduos, sociedades, Estados e culturas", reclama herzog.
Consequência: "Sem tais padrões e visões, a transformação radical que estamos experimentando é mais assustadora do que encorajadora para muita gente. Os perigos parecem maiores do que as oportunidades", completa Herzog.
"A crescente interdependência causada pela globalização dos negócios desafia a autoridade da tradicional Nação-Estado", diz Bolger, premiê da Nova Zelândia.
O que deveria ser o chefe geral da globalização, o secretário-geral da ONU, Boutros Boutros Ghali, aponta idêntico problema:
"Há o tremendo risco de que os Estados se tornem, ao mesmo tempo, cada vez mais democráticos e cada vez mais incapazes de controlar as decisões básicas das quais dependem seu futuro e, em última análise, o futuro do planeta".
É por isso que uma comissão criada em 1992, a "Comissão pelo Governo Global", apresentou durante o Fórum uma proposta para revolucionar as instituições internacionais, em especial a ONU.
Um de seus co-presidentes, o premiê sueco Ingvar Carlsson, diz que o mundo tem três alternativas:
"Podemos ter liderança global e democrática, por meio do aperfeiçoamento da ONU e de outros sistemas de cooperação internacional, ou podemos permitir que uma ou duas superpotências decidam pelo resto do mundo, ou podemos deslizar rumo à anarquia".
A proposta foi incorporada à agenda do mundo rico.
Em seu discurso ao Fórum, pela TV, o presidente Clinton disse que a reunião de cúpula do G-7 (o grupo dos sete países mais ricos do planeta), prevista para julho, no Canadá, discutirá a revisão das instituições. Clinton acha que elas serviram bem no passado, mas devem agora adaptar-se ao século 21.
O problema é que reformar as instituições pode não bastar, se prevalecer o estado de espírito individual consensualmente apontado ao longo do Fórum.
"O público em geral atribui pouca importância a assuntos como disparidade econômica, crescimento populacional, doenças, escassez de recursos, crime, refugiados e decadência ambiental", resume o empresário suíço Klaus Schwab, presidente do Fórum. "Se não enfrentados, tais problemas ameaçam trazer profundo estresse e instabilidade global".
(CR)

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