São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Mundo pobre ameaça afogar mundo rico

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

À margem das razões institucionais e filosóficas, há problemas mais concretos que contribuem para o mal-estar generalizado.
A pobreza é um deles. O Centro para um Futuro para Todos, uma Organização Não-Governamental suíça, calcula que o mundo conta hoje com 157 biliardários, cerca de 2 milhões de milionários e 1,1 bilhão "de habitantes cuja renda é inferior a US$ 1 por dia".
É natural que, nas discussões reservadas entre as autoridades governamentais que compareceram ao Fórum, se tenha chegado à conclusão de que "o crescimento quantitativo não basta; é preciso um crescimento qualitativo, o que inclui melhor distribuição da riqueza", informou Raymond Barre, relator-geral do encontro.
Não se trata apenas de benemerência das lideranças políticas. Ocorre que o mundo pobre ameaça afogar o mundo rico, conforme se depreende dos dados citados por Peter Sutherland, da OMC:
"Das cerca de 2 bilhões de pessoas que se acrescentarão à população mundial nos próximos 20 anos, 95% nascerão fora da área da OCDE" (o conglomerado dos 25 países mais industrializados do planeta), lembrou Sutherland.
Consequência: "Entre hoje e o ano 2015, o número de novos empregos requeridos para manter as taxas de desemprego inalteradas no mundo em desenvolvimento excederá a atual população combinada da Europa Ocidental e da América do Norte", sempre segundo Sutherland.
Note-se que o diretor-geral da OMC fala em "taxas inalteradas" de desemprego, quando o que se pretende é exatamente alterá-las para baixo.
"Ninguém me respondeu como podemos nos livrar do desemprego em massa", reclamou Klaus Zwickel, o sindicalista alemão que preside a Federação Internacional dos Metalúrgicos.
Zwickel foi um dos sete sindicalistas convidados a participar do Fórum, pela pela primeira vez em 25 anos de encontros anuais.
"Às relações da empresa com a comunidade, o meio ambiente e os seus trabalhadores deveriam merecer a mesma atenção dada aos seus acionistas", sugere John Monks, secretário-geral do outrora poderoso TUC (Congresso de Sindicatos da Grã-Bretanha).
O pedido pode até ser atendido, mas o fato é que "os Estados Unidos e a Europa não resolveram o problema do desemprego estrutural", como admite Joan Spero, subsecretário norte-americana para Economia, Negócios e Agricultura.
É verdade que os otimistas dizem o contrário. "O longo declínio cíclico no emprego industrial parece ter acabado", afirmou Jerry Jasinowski, o presidente da Associação Nacional da Indústria Manufatureira dos EUA.
Desde que atingiu o pico de 21,4 milhões de trabalhadores, em 1979, a indústria norte-americana cortou mais de 3 milhões de postos de trabalho até outubro de 1993, quando teria se encerrado o "longo declínio".
Mas, de lá para cá, segundo Jasinowski, a indústria só criou 300 mil empregos ou 10% do que fora eliminado no período de "longo declínio".

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