São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Quércia tenta retomar as rédeas do PMDB

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O ex-governador de São Paulo Orestes Quércia trabalha diariamente, há um mês, numa operação para tentar recuperar o espaço perdido no comando do PMDB em todo o país.
"Estamos conversando, cuidando da vida, pacientemente", disse ele na tarde de anteontem, em entrevista à Folha. "Deixem pensar que estamos mortos, não tem problema".
Essa rotina inclui encontros com deputados, prefeitos e simples cabos eleitorais do partido. Tem um objetivo a curto prazo: a reconquista e reorganização das bases do PMDB, que passam por eleições nos diretórios distritais e municipais no próximo mês.
A aplicação de longo prazo é quase uma obsessão, de acordo com quercistas: preparar o nome do ex-governador para voltar a comandar São Paulo, na sucessão de Mário Covas (PSDB), em 1998.
No seu trabalho discreto, Quércia tem dividido a atenção, de igual para igual, tanto com vereadores do interior como senadores da República.
Isso aconteceu durante as duas últimas semanas, quando articulou e conseguiu emplacar o deputado federal Michel Temer (PMDB), seu antigo aliado paulista, como líder do partido na Câmara.
Além disso, ajudou o também Jáder Barbalho a colher votos para firmar-se como líder peemedebista no Senado.

Quebra de sigilo
Desde anteontem, no entanto, um problema que havia sido demolido no ano passado voltou a preocupar os aliados de Quércia.
A Justiça paulista acatou uma ação civil do Ministério Público estadual que determina a quebra de sigilo bancário e a realização de auditoria nas contas do ex-governador no período de 1989 a 94.
Mesmo na hipótese de não se tornar um escândalo, o caso vincula mais uma vez o nome do ex-governador às acusações de irregularidades dos contratos para importação de equipamentos de Israel.
No ano passado, Quércia havia obtido uma vitória no STJ (Superior Tribunal de Justiça), que recusou a denúncia feita pela Procuradoria Geral da República sobre esse mesmo caso.
Os quercistas atribuem a ação do Ministério Público de São Paulo a uma jogada política do ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho, que mantém influência sobre o órgão.
Entre os amigos, Quércia comenta com alguma dose de raiva a suposta ligação entre a vontade de Fleury e as ações dos procuradores. Publicamente, porém, prefere não falar sobre o episódio.
Ele já anunciou que vai processar o procurador-geral de Justiça, José Emmanuel Burle Filho, responsável pelo envio das ações à Justiça.
Segundo Quércia, não adianta tentarem carimbá-lo como corrupto, pois já passou por uma série de devassas e conseguiu sair ileso.

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