São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Defesa do socialismo divide correntes

ESPECIAL PARA A FOLHA

Se o PT está mergulhado em dúvidas e precisa fazer com urgência uma reformulação interna, como pregam vários de seus líderes, a adesão ou não a um projeto socialista de sociedade ocupa lugar privilegiado na pauta de problemas a serem enfrentados pelo partido.
No debate realizado pela Folha ficou patente que hoje convivem de forma conflituosa aqueles que ainda defendem a extinção da sociedade de classes como meta e os que pregam uma reformulação radical na forma de atuação do PT, adaptando-o às exigências postas pelo capitalismo globalizado. Lula não se posicionou sobre o tema.
A primeira posição foi defendida pelo deputado estadual Rui Falcão, presidente em exercício do partido e principal líder da tendência Hora da Verdade. Lançando mão de um jargão identificado com a esquerda ortodoxa, Falcão definiu o PT como "o porta-voz dos explorados desse país".
"Quando se diz que precisamos redescobrir nossa utopias, há alguns aspectos que não precisam ser redescobertos. É a idéia de uma sociedade sem explorados nem oprimidos. Isso, a queda do Muro de Berlim não tira de nós. Isso, os avanços cibernéticos do capitalismo não tiram de nós", sustentou Falcão.
Sua intervenção procurou rebater ponto a ponto as posições defendidas pelo prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro. Este partiu do impasse em que está mergulhada a esquerda internacional, que teve seu tapete puxado dos pés com a queda do Muro de Berlim e principalmente com a mudança na estrutura de classes, que se processa no rastro da terceira revolução tecnológica.
"A classe operária tradicional perdeu sua importância estratégica na sociedade e sua vocação universal. Hoje a sociedade, fruto de uma nova revolução tecnológica ainda em curso, é baseada fundamentalmente no conhecimento e na comunicação", disse Genro.
Segundo ele, "o capitalismo atual exige do PT um novo projeto de transformação democrática que não tem nenhuma semelhança com os projetos anteriores e deve se anocorar não apenas nos trabalhadores que nasceram com a Revolução Industrial, mas num conjunto de assalariados e produtores da inteligência e da pesquisa científica, sem os quais não é possível construir uma sociedade moderna".
Não se trata apenas de uma questão de princípios, como ficou claro no debate. A polêmica que envolve as correntes dentro do PT tem desdobramentos práticos, vinculados à conjuntura atual.
Ambos discordaram na avaliação do perfil do governo FHC. Enquanto Falcão vê na atual gestão a adesão ao neoliberalismo, Genro disse que a administração tucana "não é neoliberal, mas liberal, e exige do PT uma oposição mais complexa".

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