São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Entidades de advogados viverão um ano diferente

WALTER CENEVIVA
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Amanhã, às 18 horas, no salão nobre da Faculdade de Direito, no largo de São Francisco, Cláudio Antonio Mesquita Pereira toma posse como presidente do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP). Sexta-feira última, no mesmo local e horário, registrou-se a posse do novo Conselho e da Diretoria da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo, cujo presidente é Guido Antonio Andrade. Renato Luiz de Carvalho Mange vai, a pleno vapor, na presidência da AASP — Associação dos Advogados de São Paulo. Tudo isso, óbvio, sem falar na eleição nacional, que movimentou o noticiário da semana, com a vitória de Ernando Uchoa Lima, da chapa "José Roberto Batochio".
Faço os registros para anotar que os novos dirigentes viverão o primeiro ano completo de aplicação do discutido Estatuto da Advocacia, em fenômeno associativo repetido por todos os Estados. Na lei nova os Institutos de Advogados não contribuem com uma quarta parte do Conselho da OAB no respectivo Estado, o qual passa a ter 60 membros, em São Paulo, ou seja duas vezes e meia mais que o antigo.
Com sua estrutura de entidade cuja clientela é composta por advogados militantes, a AASP será menos atingida pelas mudanças estatutárias, mas é com ela, sobretudo, que os profissionais (em particular os da Capital) encontram apoio para o exercício de suas atividades.
Os conselheiros estaduais da OAB enfrentarão os problemas da advocacia, desde as insuficiências do ensino jurídico, fonte dos muitos profissionais mal preparados em todas as áreas (magistratura, promotoria, advocacia, polícia, procuradorias oficiais), até as insuficiências da máquina judiciária do Estado, incapaz de prestar a chamada justiça dos homens.
O IASP mostra prestígio, ao contar, na solenidade de amanhã, com a presença dos ministros Moreira Alves, Néri da Silveira, Sydney Sanches, Ilmar Galvão, Marco Aurélio e Francisco Rezek do Supremo Tribunal Federal e desembargador Weiss de Andrade, do Tribunal de Justiça de São Paulo, para os receber como sócios honorários. Ao longo do ano vai afastar-se da chamada "política da classe", o que é bom, mas não dará a contribuição que lhe cabia, no Conselho da OAB, quando ali tinha representantes, o que é mau. Contribuirá para o aprimoramento científico dos advogados em iniciativas de alto nível e —ao lado da AASP— no aperfeiçoamento pós-faculdade dos recém-formados.
A profissão dos advogados tem sido imemorialmente mal compreendida pela sociedade, conforme observei em comentário recente. Todavia, passam-se os séculos e a advocacia continua fundamental para a manutenção do tecido social, porquanto os advogados são os porta-vozes de todos os que batem às portas do Judiciário. Criticados, mas imprescindíveis, insubstituíveis.
Os advogados compõem o maior grupo profissional de nível superior no Brasil. Só no Estado de São Paulo andam pela casa dos 120.000. Não falo dos bacharéis em direito, na casa do milhão. Falo de homens e mulheres registrados na Ordem e, portanto, habilitados ao exercício da advocacia.
Compõem um grupo heterogêneo, que inclui algumas das mais notáveis figuras da intelectualidade brasileira, num extremo e pessoas de grave pobreza cultural e intelectual, no outro. Viverão, em suas entidades, os tropeços decorrentes do ajuste à nova lei e às resistências que ela continua a provocar.

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