São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Fuga de capitais deve se manter este mês

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central espera nova fuga de capital especulativo do país em fevereiro, em números pouco inferiores aos de janeiro. No mês passado, US$ 1,919 bilhão deixou o país, o maior volume desde fevereiro de 1990, às vésperas do Plano Collor.
A fuga do capital financeiro, em especial das bolsas e aplicações, é resultado da insegurança geral dos investidores estrangeiros diante da crise econômica do México, que estourou em dezembro.
Na avaliação do BC, os investidores têm tirado dinheiro do país para cobrir as perdas que tiveram no México —fenômeno que se manterá em fevereiro e, talvez, em março. O cenário para os meses seguintes depende da evolução da crise mexicana.
Brasil e Argentina são os países latino-americanos que mais sofrem, em termos de perda de divisas, com a crise do México. A explicação: na leitura do mercado internacional, são os países que têm planos de estabilização em estágio mais próximo do mexicano.
"O Chile, por exemplo, não sofreu, é considerado em um outro estágio da estabilização", concorda o ex-presidente do BC, Gustavo Loyola, hoje sócio da MCM Consultores.
O México vive ameaça de escassez de dólares após acumular seguidos déficits comerciais. Como Brasil e Argentina, aquele país baseou o controle da inflação na valorização da moeda nacional diante do dólar —a âncora cambial— prejudicando exportadores.
Embora com nova fuga de capital especulativo, o mês de fevereiro será diferente de janeiro no mercado de câmbio: o resultado das operações comerciais (exportações menos importações) deverá gerar entrada de dólares suficiente para compensar a saída do dinheiro financeiro.
A equipe do ministro da Fazenda, Pedro Malan, aposta no desempenho das exportações para evitar que a saída do "smart money" (dinheiro esperto) provoque nova queda das reservas em dólar do país.
As reservas internacionais perderam US$ 3,9 bilhões apenas nos meses de dezembro e janeiro, período do estouro da crise mexicana. Caíram de US$ 41,9 bilhões, em novembro, para US$ 38 bilhões.
Em janeiro, o BC tomou medidas de estímulo às exportações que deverão gerar um superávit folgado no mercado de câmbio comercial, segundo expectativa da área técnica.
A previsão é confirmada por analistas do mercado. "O governo faz o que quer com o saldo comercial", diz o ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, Emílio Garófalo, da corretora Libero.
Loyola considera que a saída do capital especulativo, embora grave, não é motivo para pânico. "Tem gente que critica a entrada do capital especulativo, e quando o dinheiro sai acha que é um desastre", diz.
Segundo o ex-presidente do BC, "à lição do México é que o Brasil precisa urgentemente fazer as reformas necessárias (tributária, fiscal e previdenciária) e depois sair da âncora cambial".
Na sexta-feira, o ministro Pedro Malan (Fazenda) defendeu, durante encontro com parlamentares do PFL, que o país precisa estimular o ingresso de capital seguro para evitar que ocorra no Brasil o que aconteceu no México.
Ainda segundo o ministro disse aos parlamentares pefelistas, "são necessárias mudanças estruturais que consolidem os ganhos obtidos até aqui no combate contra a inflação".

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