São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995 |
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Entenda as várias contas do vaivém dos dólares
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
No caso do comércio exterior, trata-se do recebimento de exportações e pagamento de importações. A operação financeira não precisa coincidir com a operação física (entrada ou saída efetiva de mercadorias). Exportação Funciona assim, no caso da exportação: 1. O exportador fecha negócio com um comprador no exterior, para entregar suco de laranja daqui a seis meses. 2. Isso feito, o exportador tem a seguinte alternativa: esperar que o comprador deposite o pagamento em um banco internacional ou tomar emprestado em um banco o valor em dólar equivalente ao que receberá pela exportação. Nos dois casos haverá entrada de dólares no Brasil. 3. No primeiro caso, o comprador faz o pagamento lá fora e o banco envia os dólares para o Brasil, através do Banco Central brasileiro. Esses dólares ficam no Banco Central, que entrega ao exportador os reais equivalentes. Ou seja, o BC compra os dólares e paga com reais. O câmbio está fechado ou contratado. 4. Se quiser receber antecipadamente, o exportador, fechado o negócio, vai a um banco com operações internacionais e toma um empréstimo em dólares, no valor equivalente ao que ganhará com a exportação futura. 5. O banco traz os dólares, vende ao BC brasileiro e entrega os reais equivalentes ao exportador. Novamente, o câmbio está fechado. No momento, é negócio é vantajoso para o exportador porque ele fica devendo em dólares, a juros de 8% ao ano, e aplica em reais, a mais de 25%. 6. No caso das exportações, em geral a entrada de dólares antecede o envio da mercadoria. Os dólares formam as reservas externas. Importação No caso da importação, funciona assim: 1. O importador brasileiro fecha negócio para a compra de automóveis japoneses, que serão entregues ao longo de um ano. 2. Toda vez que tiver de pagar parcelas desse negócio, em dólares, o importador vai a um banco e deposita os reais equivalentes. Ele fecha o câmbio, à taxa daquele dia. 3. O banco entrega (vende) os reais para o BC brasileiro, recebe dólares e os envia ao vendedor japonês. 4. De novo, a movimentação financeira não coincide com a chegada dos carros. 5. Em geral, o importador brasileiro paga antecipadamente as importações. 6. Em movimento contrário, os dólares remetidos pelo importador saem das reservas do BC. Balança A diferença entre os dólares que entram e os que saem nas reservas do BC forma o saldo comercial financeiro. É diferente do saldo físico, medido pela entrada e saída efetiva de mercadorias. No médio prazo, entretanto, as duas contas se encontram. Além dessa conta do comércio exterior, há outra referente ao movimento de capitais, entradas e saídas estritamente financeiras, feitas por empresas e bancos. Saem dólares para: pagamento de amortizações e juros de empréstimos contraídos no exterior; remessa de dividendos ou lucros obtidos por multinacionais; investimentos brasileiros no exterior; repatriamente de investimentos estrangeiros aqui. O movimento cambial é de novo através do BC: o remetente entrega reais ao BC e assim compra os dólares a enviar. Esses dólares saem das reservas. Entram dólares para: investimentos de curto prazo (em Bolsa, renda fixa etc.) ou de médio e longo prazo (em fábricas, abertura de negócios como supermercados etc.); e novos empréstimos tomados no exterior. Os dólares entram no BC, engrossam as reservas, e o investidor ou o tomador de empréstimo recebe os reais equivalentes para operar aqui dentro. Somando as duas contas, a referente ao comércio externo e a estritamente financeira, tem-se o chamado balanço em conta corrente. Texto Anterior: Por que o governo evita desvalorizar o real Próximo Texto: ISO 9000 exige estruturação da micro e pequena Índice |
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