São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Por que vale a pena emprestar ao México

ANTONIO KANDIR

São estridentes as críticas à participação do Brasil no pacote financeiro internacional de ajuda ao México.
Para mim, que inicio agora a vida parlamentar, quem sabe fosse conveniente tomar parte nesse coro, que junta gente tão díspar do ponto de vista tanto ideológico quanto partidário e pode vir a ganhar certa simpatia na opinião pública.
Afinal, haveria tese mais simpática que defender os interesses do Brasil contra os interesses de mexicanos e milionários de Wall Street com dinheiro investido naquele país, como se tem ouvido por aí?
Minhas convicções, porém, me proíbem de engrossar o coro daqueles que são contrários ao empréstimo.
Isto porque, não só estou convencido de que o empréstimo é do interesse do Brasil, como julgo que as críticas são infundadas, improcedentes e demagógicas. Explico por quê.
Começo pelas observações que se seguem.
1 - Não haverá doação ao México, simplesmente porque não se trata de uma ação de caridade por parte do nosso país.
Trata-se, sim, de uma operação de empréstimo, na qual o Brasil contará com garantias oferecidas por instituição multilateral de crédito de inegável credibilidade, seja o BIS (Banco Internacional de Compensações) ou o FMI (Fundo Monetário Internacional).
2 - A quantia a ser emprestada, cujo valor ainda não está definido, pertence às nossas reservas internacionais e não ao Orçamento Fiscal, que é de onde provém o gasto social. Não haverá, pois, transferência de um centavo de real sequer.
3 - O empréstimo, seja qual for a forma que venha a assumir, deverá ser remunerado, com toda probabilidade, por taxa igual ou superior à que remunera hoje as reservas brasileiras.
É previsível a objeção que os críticos do empréstimo ao México farão a essas observações.
Provavelmente, dirão que os dólares do empréstimo poderiam ser trazidos ao Brasil e convertidos em reais, para serem gastos com fins sociais.
Que poderiam, poderiam, não resta dúvida. Mas que efeitos essa operação teria?
Fundamentalmente dois, que em teoria são excludentes, mas que na prática são tendentes a formar um "mix", com um pouco de cada um.
1 - Expansão da base monetária, o que geraria pressão sobre os preços.
2 - Valorização do real, em virtude do aumento da oferta interna de dólares, inibindo as exportações e estimulando as importações, justamente no momento em que se busca contornar um eventual problema de balança de pagamentos no futuro.
Afora esses efeitos negativos, a recusa do Brasil de participar da ajuda multilateral ao México, para poder "internalizar" o montante correspondente, poderia dificultar a operação, em seu conjunto.
Estaríamos, assim, dando nossa "contribuição", ainda que modesta, para manter a turbulência que está ocorrendo no mercado financeiro internacional. Por que isso nos prejudicaria?
Em primeiro lugar, porque a permanência da turbulência externa dificultaria a reciclagem de créditos obtidos por empresas brasileiras no exterior.
Isso faria aumentar a demanda interna por crédito e, consequentemente, as já elevadas taxas de juros.
Com a elevação das taxas internas de juros, aumentaria o custo de rolagem da dívida mobiliária interna, aí sim com custos fiscais ponderáveis, já que o serviço da dívida interna é pago com recursos do Orçamento.
Moral da história: o empréstimo ao México não vai nos custar um centavo de real sequer; a recusa em emprestá-los, esta sim, afora outros males, pode nos custar a subtração de reais para o investimento social.

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