São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Reações amorosas independem de genes

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Como parte de seus estudos sobre ligações emocionais, dois psicólogos da Universidade da Califórnia em Davis procuraram deslindar as influências genéticas ou ambientais que determinam as reações comportamentais das pessoas ao amor.
Concluíram que de um modo geral não existe ação genética nesses casos, o que causou estranheza, porque são frequentes as influências dos genes nos traços de personalidade, como agressão, introversão etc.
Rosei Mestrel resume em "New Scientist" as experiências e observações feitas pelo par de pesquisadores, que se valeram da muito conhecida técnica de comparação de gêmeos submetidos a condições diferentes.
Os gêmeos podem ser perfeitos ou univitelinos (ou ainda monozigóticos) e fraternos, ou dizigóticos. Estes últimos provêm de dois óvulos distintos, os primeiros de um mesmo ovo. Nestes encontramos todos os cromossomos iguais, ao passo que nos outros temos metade dos genes oriundos do pai e metade da mãe.
Os cientistas, Niels Walter e Phillip Shaver, recrutaram 445 pares de gêmeos, três quartos dos quais perfeitos, ou ainda chamados idênticos, e os restantes fraternos.
Cada gêmeo preencheu um questionário com perguntas que, devidamente interpretadas, identificavam os seis tipos básicos de estado amoroso descritos por John Lee, da Universidade de Toronto.
Esses tipos são Eros, Ludus, Storge, Pragma, Mania e Ágape. Eles correspondem, pela ordem, ao amante apaixonado, ao que só busca divertimento, ao companheiro fiel e desprendido, ao prático e finalmente ao ciumento e instável.
Somente Mania constituiu exceção, revelando ação dos genes, o que coincidiria com o resultado de outros estudos que mostram que as personalidades neuróticas são influenciadas pelos genes.
Os autores realizaram vários tipos de controle e entrevistaram também os cônjuges. Estes mostraram-se muito semelhantes aos parceiros nas atitudes amorosas, excetuados os que pertenciam aos grupos Mania e Ludus.
Não está ainda bem determinada a razão da "cegueira do amor" aos genes, para usar expressão de Mestrel. Pensa Walter que talvez os pais não levem a esse ponto sua interferência na personalidade dos filhos. Mas o que seus estudos têm revelado é a efetiva interferência dos pais na escolha dos parceiros dos filhos.
Cabe lembrar que o convívio, com a necessidade de enfrentar conjuntamente todos os problemas, consiga amoldar até certo ponto as personalidades dos parceiros, que afinal não é marcada a ferro e fogo pelos genes.

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