São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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DARCY, O BRASILEIRO

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DA REVISTA DA FOLHA

Chego a Maricá, litoral norte fluminense, mar azul e aberto, cavalos e búfalos, sol impiedoso. Darcy Ribeiro dorme na rede pendurada no terraço de sua casa, plantada na areia, desenhada por Niemeyer, sem telefone. "O professor deve acordar daqui a duas horas", informa o enfermeiro.
Passado o intervalo, andando lentamente, já sem seus cabelos esvoaçantes, vem em minha direção. Apresento-me e elogio a beleza do lugar. Pede, então, que eu erga o nariz e respire fundo. Atendo. "Está sentindo o cheiro?" Vacilo. "Cheiro de que, professor?" Aponta o horizonte: "Ora, das negras de Angola que estão aqui em frente".
No início do mês, o antropólogo, professor, escritor, político e polemista Darcy Ribeiro fez mais uma das suas. Aos 72, internado por conta de uma pneumonia —ele que, com câncer, tem apenas um pulmão— escapou do hospital. Com muito custo, convencera o médico de passar em sua casa, no Rio, para pegar escritos e voltar.
Mas mudou de rumo: seguiu para o retiro em Maricá, com direito a um caldo-de-cana na estrada. "Fugi para acabar meu livro, não poderia deixar de terminá-lo", explica.
O livro, que já recebeu outros títulos, foi, pela última vez, batizado de "O Povo Brasileiro" (leia trecho à pág. 6-6). É o fecho da copiosa produção do antropólogo em torno das especificidades históricas, culturais e étnicas do Brasil.
Darcy deita na rede para falar do livro e de sua vida. Não espera pela primeira pergunta. Começa sozinho.

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