São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Fronteira guarda sinais de ocupação

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A PATUCA (EQUADOR)

O presidente do Peru, Alberto Fujimori, não está dizendo a verdade na guerra real e de informações que trava com o vizinho Equador há mais de 20 dias.
Seus interesses militares miram mais na direção de uma campanha para a reeleição do que na de uma conquista de um novo pedaço de território amazônico.
Fujimori tem afirmado categoricamente que os equatorianos invadiram território peruano e que por isso os estaria atacando.
Ocorre, sem juízo de valor sobre as partes, que os equatorianos efetivamente ocupam há anos os destacamentos na fronteira, que o Peru diz pertencer a seu território.
Os peruanos acusam o Equador de ter invadido a área no final do ano passado e de ter consolidado suas posições rapidamente.
Na semana passada, a Folha visitou o destacamento Soldado Monge, a menos de 1 km da artilharia peruana, que havia sido bombardeado um dia antes por helicópteros e artilharia pesada.
Há seis construções destruídas no local, encravado na selva, cercado pelos rios Santiago e Yaupi.
Há pontes, um campo de futebol e outras benfeitorias em Soldado Monge impossível de realizar em um mês, como afirma o Peru.
Em outros destacamentos, como Tenente Ortiz, Cueva de los Tayos, Coangos e Condor Mirador (todos atacados na semana que passou) a situação é a mesma.
Mas o Peru insiste que os ataques aos destacamentos do Equador ocorrem em seu território.
A área de conflito é montanhosa (ramificações altas da cordilheira do Condor) e de difícil acesso.
É povoada por índios suaras e outras tribos semicivilizadas e não oferece nada que possa ser retirado do local sem investimentos de milhões de dólares.
O Equador reconhece que existe ouro e reservas de petróleo (inexploradas até agora) no local.
No lado equatoriano, manter a área de 324 km2 é mais uma questão de honra do que econômica.
Em sucessivos conflitos, o país já perdeu para o Peru cerca de 55% de seu território. Não quer ceder mais. Sem a região, o Equador também perderia a cabeceira do rio Cenepa, o único caminho para ligar o país aos rios Maranhão e Amazonas.
Há seis anos, o Equador contratou a construtora brasileira Andrade Gutierrez para levar uma estrada para próximo da cabeceira do Cenepa visando estabelecer um porto que conectasse o país ao Amazonas, mais um dado que contesta a versão do Peru de que os equatorianos invadiram recentemente o local.
Enquanto há "fervor e determinação" no Equador, os peruanos, de uma forma geral, têm se mostrado indiferente até o momento sobre os conflitos.
Mas não os políticos: Javier Pérez de Cuéllar, ex-secretário geral das Nações Unidas (ONU) e opositor de Fujimori na corrida eleitoral, também tratou de capitalizar o conflito na semana passada.
O ex-secretário da ONU, órgão máximo encarregado de manter a paz mundial declarou, sem reservas, que Fujimori está "demorando demais para atacar" e que era incompreensível a demora do país em lançar um ataque "monumental" que provocasse uma "limpeza rápida" na zona de conflito.
O Equador, com forças que não ultrapassam um terço o tamanho das peruanas, espera pelo melhor.
Pesquisa divulgada na semana passada pelo Cedatos, o Ibope equatoriano, revela que cerca de 96% da população está a favor de uma solução pacífica, 3% afirmam que o país deve lutar até o fim e apenas 1% acham que o governo deve ceder às ambições peruanas.
No lado peruano, as pesquisas que interessam, sob o favoritismo nas eleições, devem determinar as ações das Forças Armadas do país.

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