São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Organização dá apoio a jornalistas no front

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

O ano passado foi o mais violento da década de 90 para os jornalistas, segundo a organização internacional Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
Foram mortos pelo menos 103 jornalistas no exercício da profissão no ano passado. A RSF investiga outros 33 casos suspeitos.
A organização, que defende a liberdade de imprensa em todo o planeta, comemora este ano seu décimo aniversário.
Seu trabalho se faz por vários meios: assistência jurídica e financeira, denúncias na imprensa e publicações —como um "guia de sobrevivência para repórteres em zona de guerra".
A RSF também entrega um prêmio anual a um jornalista vítima de perseguição em seu país. Em 94, o prêmio foi para o ruandês André Sibomana, 40.
Diretor do jornal católico "Kinyamateka" ( "Quando o Sol Nasce", no idioma kinayarwanda), ele escapou várias vezes da morte.
Ruanda foi o país em que mais jornalistas morreram no ano passado —48, massacrados durante a guerra civil, metade do total nacional de profissionais.
Na época, emissoras de rádio e TV de Ruanda incitaram tutsis e hutus ao genocídio. Sibomana denuncia que a prática continua, não só em Ruanda, mas nos vizinhos Burundi e Zaire.
"O jornal 'Kangura' conclama abertamente ao massacre. Uma rádio que incitava à perseguição contra os tutsis vai voltar a operar", disse Sibomana à Folha.
Dois países em guerra, a Argélia e a Bósnia-Herzegóvina, vêm logo depois na lista de nações com mais jornalistas mortos.
Entre as regiões mais conturbadas do mundo para o trabalho dos jornalistas, encontram-se os países da ex-URSS. Neles, persistem práticas selvagens.
O Brasil figura na lista com o único assassinato de jornalista confirmado na América Latina.
João Alberto Ferreira Souto, dono do "Jornal do Estado", de Vitória da Conquista (BA), foi morto a tiros em fevereiro, após ter criticado autoridades locais.
Apesar do número elevado de jornalistas mortos no ano passado —em 93, haviam sido 59—, o presidente da RSF, Robert Ménard, 41, acha que a situação é melhor hoje do que há dez anos. A alta se deve aos conflitos em Ruanda e na Argélia.
A organização tem um orçamento de cerca de US$ 2 milhões por ano. Um terço vem de fundos próprios (anuidades dos associados, vendas de livros).
O restante vem de doações de empresas e de organismos internacionais, como a Unesco e a União Européia.

Para receber denúncias de violências contra jornalistas, RSF põe à disposição o telefone (00-33) 1-47-77-74-14, que aceita chamadas a cobrar. Denúncias também podem ser feitas por escrito a: Reporters Sans Frontières; 5, rue Geoffroy-Marie; 75009 Paris; França, ou pelo fax (00-33) 1-45-23-11-51

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