São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Tela quente

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - É uma frase formidável do senador Antônio Carlos Magalhães, divulgada ontem pelos jornais. Ao criticar a proposta de leilão das novas concessões de rádio e TV, ele bateu: "Se o governo fizer leilão, vai permitir que só o poder econômico detenha a comunicação do país". Pergunta óbvia: quem detém o controle hoje? Quem ajudou que fosse desse jeito?
Não vou me deter, aqui, em comentar a trombada entre FHC e ACM. Até porque (anotem) daqui a pouco estão os dois abraçados, trocando afagos, desculpando-se do mal-entendido.
O ponto essencial não é nem mesmo se o poder econômico comanda ou não os meios de comunicação: qualquer grupo (sindicato, igreja, partido) que ganhe uma concessão precisa ter dinheiro. Logo, é um poder econômico —ou, no mínimo, vai virar poder econômico depois de ganhar a emissora.
O ponto essencial é como os detentores da concessão devem se comportar para elevar o nível de educação do brasileiro, o que deveria ser a mais importante exigência do governo.
Não estou falando nada de novo: basta ver as televisões nos EUA e Europa. É preciso estimular os meios de comunicação a gastarem mais tempo com educação, principalmente em seus programas infantis. É uma tarefa urgente num país com o ensino formal público em colapso.
Temos, aliás, bons exemplos, embora de curto alcance. A TV Cultura realiza programas educativos, reconhecidos mundialmente. O ideal: todas as emissoras deveriam ter um programa do tipo "Castelo Rá-Tim-Bum", um motivo de orgulho nacional.
A TV Globo também gera bons exemplos, embora em horário de limitado acesso de programas sobre ciência, ecologia e saúde. Digo mais: contribui para a conscientização sobre os dramas criança ao lançar o "Criança Esperança". Ou seja: temos a tecnologia e sabemos como fazer. Basta apenas tornar mais constante e disseminado. É o caminho mais rápido para mudarmos a face social do Brasil.

PS — Apesar de ter programas de baixíssimo nível, Silvio Santos merece registro: seu telejornal, dirigido por Boris Casoy, é a maior aula de cidadania diária das televisões.

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