São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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XUXA É UMA COISA

HELOISA HELVECIA

Metida em dois triângulos amorosos, Xuxa Lopes vive o ano da graça. Na peça "Répétition", que começou de brincadeira, é disputada por dois atores e faz sucesso com seu lado patético. Em "A Promoção", fotonovela moderna a ser lançada em março, ela exibe sua fotogenia cômica e disputa com Petê Marchetti o amor de Taumaturgo Ferreira. No segundo semestre, a atriz carioca de 41 anos sobe ao palco como "Maria Stuart", para mostrar "coisinhas" de grandes mulheres
Xuxa Lopes é gozada. Diz ela que não sabia se sabia fazer rir até virar a histriônica Silvia de "Répétition". A peça lotou os 110 lugares do Centro Cultural na temporada de dois meses. Agora, fica até março no teatro Sergio Cardoso.
Carreira de uma dúzia de peças e meia dúzia de filmes (há mais, mas ela só conta o que conta), a atriz carioca —casada com o cineasta Hector Babenco e há sete anos em São Paulo— considera esta sua primeira "comédia-comédia".
"Mas ela sempre fez isso", estranha o autor da peça, Flavio de Souza, que também está no elenco. E elogia: "Parece que a Xuxa tem 10 anos de idade no palco."
Xuxa Lopes, 41, havia saído dolorida da última peça, "A Morte e a Donzela", em que reviveu o tema tortura, dirigida por José Wilker. "Dava um certo incômodo. Quando acabou, deu vontade de fazer uma brincadeira". Lendo um texto do Flavio de Souza, resolveu procurá-lo e convidá-lo a escrever."Tem uma coisa meio patética nos personagens dele que eu gosto."
O autor topou. Em duas noites criou os três personagens e o triângulo da história, um ato só. A produção foi "completamente anos 70", diz Xuxa. Quer dizer: sem patrocínio, sem estrutura, sem tempo hábil, na louca. "Fim de governo, era tudo contra. E quem vai ver uma peça com esse nome?" Entre novembro e dezembro, 3.500 pessoas viram "'Répétition" (ensaio, em francês, e repetição, obviamente).
Era agosto, estréia prevista para novembro. O elenco (ela, Flavio de Souza e Elias Andreatto) ensaiou numa casa na rua França, emprestada pelo marido. Xuxa disse ao grupo que produziria o espetáculo. Truque. "Passei a perna neles. No meio do caminho, não tinha produzido nada, então propus uma cooperativa. Eles achavam que iam ter salário, mas toparam, já estavam adorando a coisa", conta. Deu certo.
Ela quase sempre está atrelada aos projetos desde a origem. Escolhe texto, chama diretor, arma tudo. Monta as situações para si mesma e muda as "coisas". Foi assim que pulou de um casamento besta, aos 18, para o palco.
"Fui educada para casar, sabe, uma coisa de classe", diz, usando mais uma vez a palavra predileta, "coisa", o curinga que a protege das definições. O discurso também sai salpicado de "meio" e "um pouco". "Não gosto de ser muito clara. Nunca dou nome aos bois. Quando falo 'coisa', tenho que me explicar, e eu adoro ficar me explicando."
O primeiro casamento era a extensão do ambiente em que nasceu e cresceu. "Queria outra coisa. Vivi um pedacinho do movimento hippie em Londres, onde estudei, fiquei muito impressionada, aí voltei e caí numa cilada de casar". Menos de dois anos depois, se separou, diz, graças a um espetáculo que viu no teatro Ipanema e virou sua cabeça. "Pensei: não quero mais ter nada a ver com essas pessoas às quais estou ligada."
Não saía mais do teatro, forçou para entrar no meio. "Eu era sem rumo. Conheci uma fotógrafa, grudei nela, ia com ela ao teatro, até que ela me apresentou às pessoas, eu fui me enfiando." Seguiu conselhos, fez o curso do teatro Tablado (de Maria Clara Machado), enquanto trabalhava como manequim para ganhar dinheiro.

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