São Paulo, domingo, 5 de fevereiro de 1995
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Cobertura dos Stones chove no molhado

Emissoras esquecem notícias sobre show e ficam no blablablá

SÉRGIO DÁVILA
DA REVISTA DA FOLHA

Faltou serviço e sobrou emoção na cobertura televisiva dos Rolling Stones em São Paulo. Isso, em jornalismo, é o fim.
Sexta, 27 de janeiro, fim de tarde. Um dilúvio varria a cidade. Milhares de telespectadores de ingresso na mão desconheciam se deviam ir ao show ou não.
Sintonizaram a TV em busca de informações em tempo real —nessas horas, sua grande vantagem sobre os jornais. Frustraram-se.
A Globo revelava de um hotel que os Stones estavam em um hotel. Dizia do estádio que tudo era maravilhoso, que o público estava molhado mas animado, que a festa não tinha hora para terminar.
Sei.
Quais as ruas interrompidas pelo tráfego pesado? Os diferentes acessos do público haviam mudado? Existiam lugares secos no estádio? O cronograma, publicado nos jornais pela manhã, seria mantido?
Nada. A maior emissora do país informava que a emoção era grande e as pessoas se divertiam.
Canais menores podem se sobressair em situações assim. Não foi o caso. Na Cultura, um único, melancólico e molhado repórter, em uma rua qualquer, dava a ordem prevista das músicas que os Stones cantariam, entre outros dados de igual relevância.
SBT, Bandeirantes, Record e Gazeta/CNT mostraram pouco mais que nada.
Pois foi a MTV, emissora de alcance limitado e com pouca tradição em coberturas ao vivo, que menos decepcionou. Entradas ao vivo de Chris Couto e de um articulado Gastão tiveram mais qualidade que as da Globo, por exemplo.
O que sobra do telejornalismo no show "da maior banda de rock de todos os tempos" na maior cidade do país é uma preocupante falta de agilidade.
Ficou a impressão de que a chuva, "que não havia sido convidada" (expressão usada por nove entre dez repórteres), atrapalhou o planejado. Lembrou o "axioma de Garrincha".
(O jogador ouvia atento à explanação do técnico antes do jogo, com táticas e estratégias a serem usadas contra um time oponente ideal, que sempre reagia de acordo com o plano. Ao final, perguntava: "Tudo bem, mas alguém avisou os adversários?")
No palco, Mick Jagger rebolou, conforme o previsto. Na chuva, os jornalistas rebolaram bem mais.

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