São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 1995
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Psicólogo abre intimidade de marido que matou a mulher

ESPECIAL PARA A FOLHA

No dia 10 de junho do ano passado, Luiz Augusto Cerigola matou sua mulher, Mariangela Scolamieri Cerigola, com um tiro no rosto. O filho deles, de três anos, presenciou tudo.
O motivo do crime foi uma crise de ciúme: ele suspeitava que Mariangela o traía. O acusado admitiu o crime e aguarda julgamento preso.
Cerigola foi denunciado por homicídio duplamente qualificado: por ter matado por motivo fútil (suspeita de que sua mulher o traía) e porque impediu a defesa dela ante a surpresa do ataque (estava sentada no sofá alimentando o filho deles). O caso está sendo acompanhado por entidades feministas.
Em novembro, o psicólogo do casal prestou depoimento perante o juiz Guilherme de Souza Nucci, do 3º Tribunal do Júri de São Paulo, e o promotor Vidal Serrano Nunes.
Narrou intimidades do casal ouvidas nas sessões de psicoterapia. Revelou que as queixas de Mariangela eram de ordem sexual e econômica, e que ela queria separar-se do marido. Contou que Cerigola não entendia as reclamações e não admitia a idéia da separação.
Indagado pelo juiz se as intimidades do casal não estariam resguardadas pelo sigilo profissional, o psicólogo respondeu que estando envolvido o Poder Judiciário a quebra do sigilo era permitida. "O que sei é isso", disse.
O psicólogo informou ao juiz que Cerigola permitiu que ele desse depoimento e contasse o que sabia. Quanto a Mariangela, ele disse que não teve permissão de sua família para falar sobre sua vida íntima.
A defesa de Cerigola sustenta que ele não agiu por motivo fútil. O argumento é que a sociedade pressiona para que o homem reprima violentamente a mulher adúltera.
"Deduziu por sua conta o resto da história", diz o juiz.
A defesa rechaça também a impossibilidade de defesa de Mariangela. Alega que a vítima tinha razões para esperar o comportamento do agressor.
Para o juiz, "a surpresa esteve na cabeça da vítima e a premeditação na do réu. A versão do acusado de que teria ocorrido discussão é inverossímil".

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