São Paulo, domingo, 12 de fevereiro de 1995
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A infância no berço da literatura

LUIZ ALBERTO MACHADO CABRAL
ESPECIAL PARA A FOLHA

O escritor Jorge Luis Borges se felicitava por haver nascido numa época em que não havia o que se convencionou chamar de "literatura infantil": pôde iniciar-se diretamente na leitura dos clássicos.
Em seu tempo, era um fato possível. Hoje porém, a leitura dos clássicos parece estar em contradição com nosso ritmo de vida, que, como disse Italo Calvino, "não conhece os tempos longos e o respiro do 'otium' humanista".
Daí o grande número de adaptações destinadas ao público infanto-juvenil.
Educadores intransigentes dirão que mesmo as melhores adaptações jamais poderão substituir a leitura dos originais —e nisso estão certos.
Mas seria um erro desdenhar o poder que elas vêm exercendo nos jovens leitores. Quando bem sucecidas, estas edições têm o mérito de introduzi-los no complexo universo das "obras imortais" e de suscitar sua curiosidade pela leitura dos originais.
É o caso desta cuidadosa adaptação da "Odisséia", de Homero, feita por Peter Oliver, em prosa clara e atraente, edição encadernada e amplamente ilustrada.
A principal alteração, com relação à estrutura do original, foi o deslocamento das aventuras de Telêmaco, filho de Odisseu, para a parte final da narrativa, já que elas ocorrem pouco antes do retorno de Odisseu a Ítaca, o que propiciou uma exposição ordenada cronologicamente, no intuito de facilitar a compreensão do enredo.
O resultado é plenamente satisfatório: mesmo a simples descrição das peripécias do mais ardiloso dos heróis não deixa de nos provocar encanto e admiração, nessa edição que é feita especialmente para crianças a partir dos nove anos.

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