São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 1995
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Empresas e sindicatos vão à luta

MARTA SALOMON; SILVANA QUAGLIO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No sentido contrário, a Federação Nacional dos Petroleiros prepara uma ofensiva sem precedentes sobre deputados e senadores na tentativa de manter intocado o monopólio estatal sobre petróleo. Ameaçam invadir os salões do Congresso e até fazer greves.
Estes são sinais da guerra de lobbies que vai tomar conta do Congresso depois do Carnaval, quando os parlamentares começarem a traçar os novos limites entre o Estado e a iniciativa privada.
Na defesa de seus interesses, os grupos de pressão rejeitam a classificação de lobistas. E insistem que a principal arma para obter os votos dos parlamentares será a informação. Mas a munição é cara.
Oficialmente, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) tem um orçamento de R$ 650 mil para o trabalho de acompanhamento parlamentar. O dinheiro mantém uma equipe de nove funcionários e um sofisticado banco de dados.
"Vamos gastar o que for necessário", disse o ex-deputado Oscar Correa Júnior, que coordena o IBDT (Instituto Brasileiro para o Desenvolvimento das Telecomunicações), com 13 sócios interessados em explorar a área, como o Bradesco, a Globopar e a construtora Norberto Odebrecht.
O principal adversário do IBDT, a Fitel (Federação Interestadual dos Trabalhadores em Empresas de Telecomunicações) tampouco divulga o orçamento do lobby, mas admite apelar até para as caras campanhas na TV.
"Dizem que somos corporativos, mas a defesa do monopólio é estratégica", argumenta Lenir Távola, diretora da Fitel.
"Temos os telefones e endereços de cada um dos 594 parlamentares", contou o coordenador nacional da Federação dos Petroleiros, Antônio Carlos Spie, empenhado em ganhar adeptos para causa do monopólio estatal.
Dados detalhados do perfil dos parlamentares são munição básica na guerra dos lobbies. Produzidos em massa por empresas em Brasília, os perfis orientam o jogo, onde ganha quem conseguir os votos de 308 deputados e 49 senadores —três quintos do Congresso.
O Diap (Departamento Intersindical de Apoio Parlamentar) sofisticou neste ano a produção de "radiografias" do Congresso.
O órgão definiu até as bases eleitorais dos parlamentares, onde cada um deles recebe votos e é mais sensível à pressão.
"Entre a sobrevivência política e o compromisso com os financiadores de campanha, os parlamentares vão ficar com a primeira", aposta Antônio Augusto Queiroz, diretor do Diap.
"Nos valemos do exemplo do Diap para chegar onde estamos", disse o diretor da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) Ruy Altenfelder.
A fracassada revisão constitucional de 93/94 serviu de experiência para os lobistas. A maioria do empresariado manteve a mobilização e acompanha cada passo da reforma desde a época de campanha do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Os empresários apostam agora no poder de negociação do governo no Congresso e agem de forma integrada, mesmo com interesses diferentes em alguns casos, como a abertura do mercado de navegação de cabotagem.
É o caso das 120 empresas de capital estrangeiro sediadas no Brasil, que atuam em conjunto, vinculadas com a Fiesp. "Em nenhum momento se reuniram tantas condições favoráveis para a abertura da economia", calcula Roberto Mello, diretor de relações internacionais da Shell.
(Marta Salomon e Silvana Quaglio)

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