São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 1995
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Vans coreanas desafiam concorrentes com humor

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma dupla de peruas coreanas está fazendo a festa no mercado de importados.
Com 1.898 unidades comercializadas em janeiro, a Towner, da Asia Motors, encabeçou o ranking dos modelos mais vendidos da Abeiva, a associação das importadoras de veículos.
A segunda posição coube à Besta, da Kia, que no mês passado atraiu 1.135 compradores.
Os dois modelos têm algo em comum: são produzidos pelo mesmo conglomerado automobilístico e lançados em conjunto na maioria dos países.
Mas, a exemplo de outros mercados, as redes de distribuição concorrem entre si. Isso gerou uma disputa engraçada na mídia.
Para abrir uma brecha em um segmento há quatro décadas dominado pela Kombi, a agência FCB, que cria as campanhas da Towner, seguiu a trilha da propaganda comparativa.
Um dos comerciais faz uma irônica homenagem à avó dos utilitários, que já vendeu cerca de 1 milhão de unidades no país. "Quanta coisa aconteceu nesses 40 anos", diz o apresentador diante de uma Kombi disfarçada. "E você assim, igualzinha, não mudou nada."
Outros filmes exploram a vantagem do espaço interno, como o do hipnotizador que tenta convencer sete passageiros da Towner a acreditarem que são anões para se acomodarem em um carro nacional de dimensão externa superior.
O comercial mais recente, que promove outro modelo da família, espeta a co-irmã Besta. "Esta é a Topic, uma besta, desculpe, bem maior e mais luxuosa", afirma o apresentador. "Querendo a gente chama a Topic de jegue...talvez mula...asno?"
A Kia do Brasil, que veicula anúncios em jornais e revistas e se prepara para estrear na TV, não pretende responder à provocação.
"O concorrente está fazendo propaganda para a Besta, que é líder de vendas da categoria", diz Paschoal Fabra Neto, diretor da agência Add, responsável pela estratégia de comunicação calcada no nome curioso do veículo.
A marca internacional, "Best" (melhor, em inglês), acompanhada da letra "A", teve a fonética aportuguesada para sustentar o tom humorístico da campanha.
A aposta teve uma dose de risco. Um veículo batizado de "Nova", lançado pela Chevrolet no México, ganhou o apelido pejorativo de "no va" ("não vai").
"No caso da Besta, utilizamos o nome como alavanca", diz o publicitário, que confiou na cumplicidade gozadora do brasileiro.
"Olha que bicho deu no Salão do Automóvel", diz o título de um anúncio, ilustrado pelas figuras de um castor e uma besta, que se refere à prisão em flagrante do zoobanqueiro carioca Castor de Andrade e ao desempenho recordista de vendas no salão.
"Esta Besta também é capaz de deixar no banco os 11 titulares da seleção", diz outra peça, que pegou carona nas críticas disparadas à época contra o técnico Parreira.
Com verbas publicitárias que somam US$ 10 milhões —70% do total será investido pela Asia Motors—, as duas vans coreanas vão buzinar forte em 1995 para chamar atenção, em contraste com o estilo bem comportado das campanhas de automóveis, mais baseadas no desempenho tecnológico.

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