São Paulo, domingo, 5 de março de 1995
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Crise divide empresários e economistas

MÁRCIA DE CHIARA; FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Economistas e empresários brasileiros estão dividos em relação a crise mexicana. Exportadores temem o "arrastão", enquanto indústria e comércio acreditam em um surto de crescimento.
O abalo financeiro que atingiu o México a partir de dezembro já contaminou o dólar —que não pára de cair no mercado internacional— e agora ameaça a Argentina.
Afetadas pela falta de liquidez, as empresas argentinas mergulham na possibilidade de insolvência. Os bancos correm risco de quebrar e a Bolsa negocia os menores volumes da história. Tudo isso obrigou o governo a lançar um pacote de medidas que torna o Plano Cavallo ainda mais recessivo.
O temor é que os respingos atinjam o Brasil. O governo nega qualquer influência. Alega que as reservas internacionais do país ainda são suficientemente fortes —embora tenham caído de US$ 43 bilhões para US$ 38 bilhões no trimestre final de 94.
A crise tem reflexo inevitável no Brasil porque os três países pertencem ao mesmo complexo econômico e estão interligados, afirma Michel Alabi, vice-presidente da Adebim (Associação de Empresas Brasileiras para Integração no Mercosul).
Para ele, qualquer "desajuste" na economia argentina ou brasileira "desarmoniza" as políticas macroeconômicas dos dois países.
"Só no ano passado o Brasil vendeu US$ 4,13 bilhões para a Argentina. Como o plano de ajuste naquele país é recessivo pode resultar na redução dos embarques brasileiros", diz. "Os empresários brasileiros já estão com pé atrás por causa da saída de capital."
Segundo ele, a precupação com a Argentina é maior porque os dois países precisam estabelecer políticas comuns para o Mercosul.
As empresas que atendem o mercado interno, diz ele, também sentirão os efeitos. Para Flávio Nolasco, economista-chefe da Brasilpar, as empresas brasileiras que vendem seus produtos para a Argentina devem até rever seus planos de investimentos.
"Se a Argentina for obrigada a desvalorizar a sua moeda, dificilmente o Brasil vai escapar. A parceria comercial entre os dois países é forte", diz Fernando Homem de Melo, economista da USP.
Adhemar de Barros Filho, presidente do conselho de administração da Lacta, diz que o Brasil não está isolado e segue o mesmo caminho da América Latina.
"Dizer que o Brasil pode ter uma rota única é pura ficção. Qual é a Nação que sai de uma situação difícil sozinha, especialmente agora na era da globalização?"
Para ele, a crise "a médio prazo afeta todo mundo. Os juros devem subir. Isso encarece a produção e estimula a volta da inflação".
O Brasil, na sua opinião, vai ter que "readequar" a sua política cambial em três ou quatro meses.
(FF e MCh)

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