São Paulo, domingo, 5 de março de 1995
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Argentina pode adotar a dolarização total

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

A desvalorização do peso argentino não está nos planos do presidente Carlos Menem se conseguir um segundo mandato nas eleições de maio nem dos candidatos da oposição.
Menem e o ministro da Economia, Domingo Cavallo, discutem a alternativa para evitar a desvalorização: a dolarização total. Isto significaria que o dólar norte-americano passaria a ser a única referência para a economia argentina.
A desvalorização do peso seria traumática porque precisaria da aprovação pelo Congresso. O simples anúncio de uma desvalorização provocaria inflação e uma quebra generalizada no sistema financeiro.
Desde abril de 91, quando foi adotado o Plano Cavallo, o peso argentino tem sua cotação em relação ao dólar fixada por lei —um peso vale um dólar.
No final de dezembro, o Banco Central transformou todos os recolhimentos compulsórios feitos pelo sistema financeiro em dólares, inclusive os ativos em pesos.
Segundo a Folha apurou, a dolarização depois das eleições é tida como certa pelo governo brasileiro. O Ministério das Relações Exteriores brasileiro definiu um esquema especial com o governo Menem para evitar tumultuar ainda mais o já agitado mercado financeiro argentino.
Até as eleições presidenciais de 14 de maio, o Itamaraty comprometeu-se a que nenhuma autoridade da área econômica desembarque em Buenos Aires para reunir-se com colegas argentinos.
Ambos os governos avaliam que um eventual encontro da assessoria de Malan com a equipe de Cavallo alimentaria ainda mais os temores do mercado sobre uma eventual crise cambial argentina.
O presidente Menem espera um tratamento especial de Bill Clinton por causa do alinhamento automático da diplomacia argentina com os EUA.

A crise
A desvalorização do peso mexicano agravou a fragilidade da economia Argentina. Desde setembro do ano passado, o país enfrenta saída de capital estrangeiro, queda na arrecadação e aumento do déficit no balanço de pagamentos.
Em setembro de 94, Cavallo, foi obrigado a recusar créditos no valor de US$ 420 milhões do FMI (Fundo Monetário Internacional) por não poder cumprir metas de superávit nas contas públicas.
O principal ingrediente do Plano Cavallo já demonstrava sinais de esgotamento: a entrada maciça de capital externo. Desde abril de 91, o programa de estabilização argentino é sustentado pelo ingresso anual de cerca de US$ 10 bilhões.
Investidores institucionais passaram a considerar atraentes as aplicações em títulos e ações argentinas. Um dos resultados imediatos da entrada de US$ 10 bilhões anualmente foi a oferta fácil de crédito. Proliferaram bancos "atacadistas", que se destinam a aplicação em fundos de investimentos.
Empresas e bancos norte-americanos constituiram os principais clientes deste tipo de instituição. A saída desses investidores teve efeito imediato em 30 bancos "atacadistas", que correm risco de quebra. Além disto, a fuga de investidores estrangeiros, retirada de depósitos em pesos pelos correntistas comuns e a alta dos juros provocaram uma falta de crédito em todo o sistema financeiro.

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