São Paulo, domingo, 5 de março de 1995
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Globalização econômica cria cenário de alto risco

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A globalização da economia produziu um crescimento sem precedentes no movimento do dinheiro e de mercadorias, mas, ao mesmo tempo, criou um cenário de alto risco. A avaliação é do economista e professor da USP Eduardo Giannetti da Fonseca.
Ele considera que este processo "pressupõe, o que talvez não seja realista, um padrão ético e um alto grau de confiabilidade."
Em dez anos, as exportações mundiais registraram crescimento de 114,3%, chegando a US$ 7,5 trilhões em 1993.
Apesar do crescimento extraordinário, os volumes não chegam perto do movimento financeiro. Hoje, somente o mercado de câmbio movimenta por dia US$ 900 bilhões no mundo —o que equivale a "negociar" dois Brasis. É dinheiro eletrônico, que muda de mãos via computador.
No mesmo período, as aplicações de estrangeiros em ações nas Bolsas do mundo cresceram 28% ao ano, atingindo US$ 1,4 trilhão, enquanto os investimentos diretos (chamados de produtivos) somaram US$ 1,7 trilhão.
Tecnologia (computador), fusos horários diferentes e desregulamentação produziram um mercado mundial, que começa no Oriente, passa pela Europa e chega aos EUA negociando e fazendo preço de ouro, taxas de juros, ações e moedas 24 horas por dia.
Logo, qualquer ajuste de preços (para cima ou para baixo) acaba percorrendo este mesmo caminho e com a mesma velocidade.
Antes, havia espaço para desastres localizados; hoje, desapareceu, com a globalização, até a possibilidade de políticas econômicas estritamente autônomas, afirma Giannetti da Fonseca.
Mas, para ele, não existe a possibilidade de uma volta ao passado e "o país que não participar desta via de acesso ao mercado e aos capitais terá de enfrentar custos econômicos altíssimos".
Segundo o vice-presidente financeiro do banco Itamarati, Oswaldo de Assis, "não existe mais a possibilidade de atuar no mercado sem levar em conta o que está acontecendo no mundo."
É fácil entender o porquê. O comportamento da economia brasileira poderia sugerir como uma boa alternativa de aplicação as ações. Mas basta que empresas declarem moratória no México para que um processo de baixa de generalize, atingindo tanto o Brasil quanto a Argentina.
É a natureza deste mercado interligado que explica como um operador em Cingapura, por fraude ou imperícia (o caso ainda está sendo investigado), quebra um dos bancos mais tradicionais da Inglaterra e desencadeia um processo de queda das Bolsas no mundo, iniciando com a de Tóquio.
Giannetti da Fonseca afirma que "existem fórmulas matemáticas que mostram que é possível uma revoada de pássaros no Havaí provocar nevascas na Escandinávia". É a chamada teoria do caos, que parte do princípio de que pequenas alterações podem provocar grandes mudanças em um sistema. "A economia, como o tempo, é um sistema único no planeta", completa.
O economista, que lança este mês o livro "As partes e o todo" (que fala da globalização), lembra que o operador do banco inglês tinha "um mandato de seus clientes e de seu banco para aplicar recursos em um mercado globalizado".
Nick Leeson, o operador que quebrou o banco Barings, foi preso na Alemanha. Ele é acusado de criar um rombo estimado em US$ 1 bilhão em operações no mercado futuro da Bolsa de Tóquio —um dos ramos do chamado mercado de derivativos.

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