São Paulo, domingo, 5 de março de 1995
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Salk busca vacina terapêutica para Aids

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na década de 50, o virologista Jonas Salk tornou-se verdadeiro ídolo nos Estados Unidos ao descobrir a primeira vacina eficaz contra a pólio.
Há pouco mais de oito anos ele reapareceu com destaque no noticiário internacional anunciando que resolvera interromper sua aposentadoria e voltar ao laboratório para dedicar-se ao estudo da Aids e tentar a produção de vacina.
Muitos duvidaram do êxito de seu plano, mas uma comissão de especialistas sugeriu ao FDA, o órgão que naquele país fiscaliza alimentos e drogas, que autorizasse o ensaio da nova vacina em 5.000 voluntários.
Salk nasceu em 1914 e formou-se em medicina, mas antes de terminar o curso já se empenhava em pesquisas científicas. Associou-se a Thomas Francis Jr., que se dedicava a estudos sobre o vírus influenza (gripe), em particular à classificação de seus tipos sorológicos e à preparação de vacina na Universidade de Michigan.
Com a colaboração de Salk, Francis Jr. pôde produzir a primeira vacina eficiente contra o vírus influenza A e B.
Jonas passou depois para a Universidade de Pittsburgh, onde continuou a pesquisar o influenza, mas acabou fixando-se no estudo da poliomielite.
A vacina que preparou consiste em uma mistura do vírus com formol, que o inativa. Depois de verificar seu sucesso em macacos e pequeno número de voluntários, que produziram anticorpos (substâncias de defesa específicas) em abundância, foi autorizado a realizar um ensaio em mais de 400 mil crianças.
O ensaio teve grande êxito. A extensão da vacinação a outros grupos contribuiu para reduzir de 96% a importância da pólio como problema de saúde pública nos Estados Unidos.
Cercado de láureas, prêmios e recompensas, Salk continuou sua carreira científica e em 1960 tornou-se diretor do Instituto Salk de Pesquisas Biológicas. Aposentou-se cientificamente, para retornar recentemente ao laboratório.
Sua vacina contra a Aids pertence ao grupo das chamadas vacinas terapêuticas, que, ao contrário das vacinas comuns, são injetadas em pessoas já infectadas.
A iniciativa de tentar esse tipo de vacina foi tomado de acordo com uma indústria farmacêutica, a Immune Response Co.
A FDA costuma ser muito rigorosa na autorização de ensaios em massa. Como não existem ainda provas cabais da eficácia da vacina proposta, surgiram muitas críticas quanto à alegada benevolência da FDA em relação a Salk.
David Ho e George Shaw, reconhecidos especialistas, são radicalmente contra o uso de vacinas terapêuticas em pacientes de Aids. Mas Salk mostra-se confiante. Por que a autorização proposta pela comissão por seis votos a três, com uma abstenção?
Alguns atribuem ao prestígio científico de Salk, outros à pressão dos voluntários que já estão recebendo as repetidas doses do produto e que declaram haver melhorado seu quadro clínico, e ainda outros a interesses políticos. O tempo dirá se Jonas Salk atingirá a glória de haver descoberto pela primeira vez vacinas eficazes contra dois flagelos da humanidade.

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