São Paulo, domingo, 5 de março de 1995
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Esquerda basca procura vencer fronteira

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

Nacionalistas bascos de esquerda começam a se unir dos dois lados da fronteira. Eles realizam encontros mensais e pensam em lançar candidatos às eleições francesas e espanholas.
Richard Irazusta, 32, um dos porta-vozes do grupo EMA, em Bayonne (França), falou à Folha sobre essa aliança. Ele disse que a maior parte da população no país basco francês quer a criação de um Departamento próprio, primeiro passo para a autonomia.

Folha - Como tem sido a relação entre o País Basco do norte e o do sul?
Richard Irazusta - As relações foram muito complicadas até o início dos anos 90. A ETA (Euskadi ta Askatasuna, ou Pátria Basca e Liberdade) queria que o País Basco do norte fosse um lugar mais calmo. A evolução da repressão construiu uma solidariedade entre o sul e o norte.
Folha - Qual a diferença entre a repressão nos dois países?
Irazusta - A raiz da repressão, no fundo, é a mesma. Há diferenças: houve o franquismo, o aspecto muito violento no País Basco do sul. Há uma guerra sem misericórdia no sul. Mas o objetivo é o mesmo: impedir, em uma Europa que se normaliza, que haja um núcleo de oposição.
Folha - O que prega o EMA?
Irazusta - No País Basco norte, não há nem um Departamento País Basco. É preciso um estatuto autônomo, para preservar a identidade basca no norte.
Folha - Há receptividade da parte do governo francês?
Irazusta - Não. No governo do premiê Michel Rocard (1988—91) houve interesse. Desde então, há um desprezo total. O governo francês se aliou ao espanhol e não tem nenhuma posição própria.
Folha - O sr. foi vítima da repressão?
Irazusta - Testemunhei a explosão do carro de um amigo, em 1985, em Bayonne. Ele ficou apenas ferido, a bomba estava sob o assento do passageiro. Se eu estivesse dentro do carro, não estaria aqui para contar isso. Era a época do GAL. Fui detido, suspeito de estar transportando a bomba. Mais tarde, fui preso em uma investigação sobre o Iparretarrak, do qual nunca fiz parte.
Folha - Os atentados do Iparretarrak não foram prejudiciais à causa basca?
Irazusta -Difícil medir, mas será que o Iparretarrak não despertou apoio à causa basca? Podemos inverter a pergunta. Acho, antes, que foi positivo.
Folha - As revelações do caso GAL, na Espanha, são positivas para o movimento nacionalista?
Irazusta - Sim. Hoje nos damos conta do ponto a que chegaram os socialistas espanhóis. Para que tenham posto a mão na engrenagem do GAL, é preciso uma cegueira terrível. É o machismo ibérico que não quer ser vencido pelo irredentismo basco. Como governo de esquerda pode pagar mercenários para calar movimento nacionalista?

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