São Paulo, domingo, 5 de março de 1995
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Hora de ousar

O governo reúne esta semana o Conselho Político, composto pelos partidos aliados, para dar forma final às suas propostas de emenda constitucional sobre a Previdência. É uma definição importantíssima.
Essa questão de fato é quase paradigmática do processo de reformas, tanto pela sua relevância para o futuro do país quanto pelo seu caráter amplamente polêmico.
O peso das pensões e aposentadorias sobre as contas públicas é inegável. Vale ainda ressaltar que a situação da Previdência, no seu modelo atual, aponta para uma deterioração progressiva ao longo do tempo, tão inexorável quanto as mudanças demográficas no país.
Igualmente importantes são as distorções e injustiças do modelo atual, com privilégios para alguns grupos enquanto a imensa maioria recebe benefícios aviltantes. Uma verdadeira reforma no setor deve atingir não só a Previdência propriamente dita como também os sistemas especiais do setor público.
Não se duvida que o governo tenha consciência da gravidade do tema. O que preocupa sim é se terá a determinação e a coragem para propor as reformas necessárias. É evidente que extinguir a aposentadoria por tempo de serviço e os privilégios setoriais —para citar apenas duas mudanças importantes— trará resistências gigantescas.
O otimismo irrealista é sem dúvida um pecado capital na atividade política. Mas entre ele e a timidez excessiva, que se rende sem luta e perpetua distorções e crises, há um espaço muito grande para negociação. Um espaço que pode se ampliar com propostas corajosas, particularmente quando cresce a percepção de que, sem as reformas devidas, a estabilização terá vida curta. E apresentar desde logo emendas tíbias é resignar-se a conseguir resultados ainda mais débeis. Talvez débeis demais.
O governo Fernando Henrique Cardoso enfrenta assim uma verdadeira prova de fogo com a Previdência. Se sua intenção é realmente mudar o país, a hora é de ousar.

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