São Paulo, domingo, 5 de março de 1995
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Secretário da Receita toma susto

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — "Estou muito assustado", disse ontem a esta coluna o secretário da Receita Federal, Everardo Maciel. Ele provocou: "Quanto você acha que uma empresa, em média, pagou de Imposto de Renda no ano passado?"
Não tinha a menor idéia. "Chute", ele insistiu. Tomei como base alguns amigos, imaginei que um salário de R$ 4.000 deveria descontar por mês na fonte cerca de R$ 500. E chutei: "R$ 10 mil". Errou, Everardo disse. Tentei de novo: "R$ 15 mil". Novo erro.
Nos seus cálculos, as empresas pagaram por mês, em média, R$ 2.000. "Está cheirando a coisa podre", ele comentou. Na sua mesa, está uma grossa lista de nomes de empresas que, no ano passado, não pagaram nada de imposto —nada, no caso, significa exatamente nada. Ou seja, zero. Motivo: declararam não ter obtido nenhum lucro, tiveram prejuízo.
Everardo acha estranho porque, afinal, a economia está crescendo desde 1992 e, no ano passado, houve explosão de consumo. E na gigantesca lista estão empresas de grande porte: construtoras e instituições financeiras.
Pode-se argumentar que a lei permite às empresas descontar nas declarações seguintes prejuízo de anos passados. "Essa brecha legal não justificaria tanta empresa com tanto prejuízo", rebate.
Sua opinião é de que a sonegação corre solta, em meio a indícios flagrantes. Por exemplo: São Paulo é responsável por 47% da arrecadação dos tributos nacionais. Mas concentra apenas 18% das multas. Duas opções: ou o empresário paulista é ótimo pagador de impostos ou o fiscal é péssimo cobrador. "Estamos trabalhando mal", conclui o secretário, optando pela segunda hipótese.
A partir desses números, Everardo Maciel informou que inicia amanhã investigação por amostragem em empresas que tiveram prejuízo. A peneira começa com as instituições financeiras.
PS — Os trabalhadores e profissionais liberais deveriam reivindicar os mesmos direitos das empresas. Se ficassem desempregados ou sem clientes, descontariam o prejuízo nas declarações futuras.

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