São Paulo, domingo, 5 de março de 1995
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AVIS RARA

MARIA ESTER MARTINHO

A gaúcha Flavia Moraes não se considera publicitária: diz que é uma fazedora de filmes. Mas foi dirigindo comerciais cheios de humor ou erotismo sutil que construiu sua carreira vencedora. Em 94, sua produtora faturou US$ 10 milhões. Cannes lhe deu um Leão de Prata e ela foi a primeira brasileira aceita na poderosa Directors Guilde of America, que reúne os diretores de lá.
A figura andrógina nunca atrapalhou. Ao contrário: despertou curiosidade. Aos 35 anos, vive na bela casa que construiu em São Paulo, dirige sua Nissan Pathfinder e abre frentes em Los Angeles para realizar um longa-metragem de ficção

Depois de "Me dá um trocado", a frase que a diretora de filmes de publicidade Flavia Moraes mais ouve em São Paulo é "Sim senhor". Acontece toda vez que ela se dirige a um garçom ou guardador de carro, do alto de seu corpanzil —1,82 m, 86 quilos—, sempre coberto por calça masculina, camisa masculina e blazer masculino. A gravata eventual, a voz grave e o cabelo curtíssimo acabam de caracterizar uma confusão que não espanta a figura mais andrógina da cidade. "Já ouvi de tudo, até 'vai cortar o cabelo, veado', quando tinha cabelo comprido e estava com um namorado", ri. "Às vezes incomoda, não é bom ser avis rara sempre. Mas pode ser interessante. Se você está com a namorada e quer beijar a namorada, ninguém olha."
A aura masculina, que transcende o corte da roupa, é, em seu caso, menos um embaraço que um trunfo —em um conjunto, por assim dizer, vencedor.
Gaúcha, 35 anos, Flavia Moraes construiu nos últimos 15 uma sólida carreira em publicidade —só em 94, faturou US$ 10 milhões para sua produtora, a Film, e arrebatou um Leão de Prata em Cannes— a partir de uma vocação inequívoca para o comando. "Gosto de mandar, né?". A mesma vocação a fez criar a produtora e agora a empurra para os Estados Unidos —onde arma esquema para dirigir, em breve, seu primeiro longa-metragem de ficção, que quer ver chegar ao Brasil "com distribuição americana".

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