São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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AVIS RARA

MARIA ESTER MARTINHO

O apuro rendeu. Antes de a década
virar, fez seu primeiro comercial "com verba", para a grife Pool, em que uma ninfeta põe todos os seus recursos na composição de um modelo para encontrar o namorado —e depois diz que nem teve tempo de trocar de roupa. Logo veio o comercial da Artex, que entrou para a história como o primeiro nu frontal masculino no Brasil. "O que não faz uma assessoria de imprensa", ri. O nu não passava de uma sombra sutil que se movia por um átimo no ventre de um ator que nadava na piscina.
Associada a um certo humor e à sutileza para tratar o erotismo, virou figura de proa em uma mudança de eixo no mercado de propaganda. "Há até algum tempo, o nome da produtora valia mais que o do diretor. Mas à medida que os diretores começaram a contribuir mais na criação, passaram a mobilizar pessoalmente um grande volume de negócios", diz. Como outros, achou que era o caso de ter a sua produtora, que abriu em 90. "Para você crescer, tem que ser empresário do seu filme. A maioria dos empresários orça o filme em 100, mas quer fazer por 30 para embolsar 70. Na sua empresa, vale o seu critério. Se um roteiro pode te projetar, você faz o contrário."
A julgar pelo volume de trabalho da Film e pelo mundo de símbolos de poder que a cercam, seu critério se provou o melhor. Além dos 35 funcionários fixos da produtora, Flavia alimenta um séquito pessoal que inclui assistente, motorista, caseiro e preparador físico. Diz que acorda com o barulho deste último virando a esquina em sua moto. Malha pedalando a bicicleta ergométrica ou socando um saco de areia na varanda da bela casa de vidro, ferro e concreto que construiu no condomínio paulistano de Tamboré —e que, durante três anos, foi "uma amante gorda, comedora de cheques" em sua vida.
Quando soca o saco, com luvas de boxe, deve imaginar nele uma das figuras que tornam o dia-a-dia de um diretor de comerciais "uma coisa muito chata": clientes que reclamam do figurino dos filmes mas usam "aqueles cintos com iniciais, pretos de um lado e marrons do outro"; publicitários "com egos gigantescos, três celulares, cinco mulheres e pouco estofo cultural"; e "por mins", representantes de clientes que comparecem a reuniões mas não decidem nada. "É aquele que fala, 'por mim tudo bem, mas não sei o chefe lá', conhece?".
As dores da publicidade —como filmar alimentos, que são surdos às suas orientações— brigam com o prazer de fazer "filmes criativos". No rol, ela inclui recentes campanhas da Pepsi e do novo Gol, em que robôs lambem a cria na montadora.

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