São Paulo, domingo, 5 de março de 1995
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Pela televisão, Carnaval tem efeito Lexotan e não diverte

Nem vinhetas mirabolantes e TV interativa salvam transmissão

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Sem querer jogar confete (já entro com trocadilho infame), a melhor cobertura do Carnaval, a despeito do escasso tempo que lhe foi reservado, foi feita por Rosa Moreno do Canal de Notícias da NBC, uma das estações em língua espanhola distribuída pela Net e Multicanal.
Tudo bem, a repórter cucaracha chamou o Carnaval carioca de "Mardi Gras" e carro alegórico de "carroça". Mas fez um trabalho didático, que incluiu histórico do jogo do bicho, rei Momo e até o anúncio incentivando o uso da camisinha no Carnaval (que, este ano, teve direito a um esplêndido samba enredo —melhor que o de muita escola de 1º grupo).
Será que Bidu Sayão, homenageada com enredo pela Beija-Flor, está até hoje sentada em cima do carro alegórico esperando para ser resgatada? Você não sabe? Eu também não. Como é que se pode saber, se a TV não se interessa em incrementar com reportagens as repetitivas imagens da avenida e dos bailes?
Porque ninguém nunca mostra o que acontece com aquelas peladonas dos carros alegóricos depois de terminado o desfile? Será que fica aquele negócio de "Vai comer agora ou quer que embrulhe?" É um mistério que, espera-se, um dia venha a ser elucidado. Fica a sugestão para o Carnaval de 1996.
Qualquer um que tenha visto um desfile de escola de samba ao vivo sabe que se trata de um espetáculo nada "televisionável". Ao contrário das corridas de F-1, que ganham ao serem transportadas para o vídeo, o Carnaval é como o vinho Borgonha: viaja malíssimo.
Fica aquele negócio de recortar a escola em tomadas sem nexo na avenida ou em flashes ginecológicos nos salões, e de encher linguiça com expressões do tipo "recuperar a brasilidade", "está um luxo", "que maravilha" e "dá uma sambadinha aí, minha filha, para o pessoal lá de casa curtir".
Este ano, Manchete e Globo experimentaram novidades insossas. Introduziram vinhetas mirabolantes e TVs interativas, que acolhiam votos dos telespectadores via telefone. Vestiram até seus repórteres com camisetas imitando as dos camarotes das cervejarias. O esforço foi vão.
Nenhuma conseguiu transportar para dentro da casa do telespectador a mais remota sensação daquilo que se passa de fato na concentração, no asfalto ou nos bastidores.
A CNT, então, funcionou como Lexotan. Durante a madrugada de sábado, enquanto as outras emissoras mostravam desfiles ao vivo, a CNT deu para transmitir um desfile diurno do dia anterior.
Pior que a CNT, só mesmo a baixaria "aqui-agoresca" perpetrada pela turma do SBT. No baile do Scala, o repórter Carlos Cavalcante matava o tédio encoxando as cabrochas, Elke Maravilha mandava o pessoal "frevar" e Liliane Ventura se empipinava em "boutades", como: "Anos após anos o povo admira o compositor João Roberto Kelly". Pensando bem, em se tratando do baile Scala Gay, a afirmação até que não soou tão mal.

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