São Paulo, domingo, 5 de março de 1995
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Veni, Vidi, Vixi

DALMO MAGNO DEFENSOR
ESPECIAL PARA O TV FOLHA

Conferindo o gabarito do teste do caderno "Carnaval", de domingo passado, descobri que nada adiantou eu jamais ter ido a um baile ou assistido pessoalmente a um desfile: sou "meijmo" ("mesmo", como se diz no Rio) um folião.
Entre as poucas questões que errei, estava a segunda, que pedia a continuação da letra de um samba-enredo (impossível: acho mais fácil decorar uma bula de remédio), e a última, porque jamais imaginei nosso presidente gastando seus preciosos neurônios analisando —e elogiando— um desfile da Beija-Flor. Parafraseando Joãosinho Trinta, ex-carnavalesco da escola de Nilópolis, agora pode-se dizer que "quem gosta de quem diz que quem gosta de miséria é intelectual, também é intelectual".
Em meu novo status de súdito de Momo, assisti ao começo do desfile do primeiro grupo do Rio, uma espécie de NBA do samba. A Manchete, que em seu plantão permanente mostra muita coisa que não interessa, dessa vez deu um belo "furo" na Globo, que ainda terminava o "Fantástico", e flagrou a Beija-Flor na emocionante "partida dos motores". A um grito de Neguinho ("olha a Beija-Flor aí, geeente!"), a bateria retumbou, os violinistas sambaram —um deles girando o violino, imitando os pandeiristas— e a escola e o coral começaram a entoar o samba que homenageia Bidu Sayão. Foi demais.
No entanto, nem tudo são flores: basta mudar para a cobertura dos grandes bailes e descobrir o lado ridículo do Carnaval. Mesmo Jô Soares e Marília Gabriela ficariam aflitos tentando extrair algo original das entrevistas. É como ouvir torcedores na porta do estádio. E há os eventos "encheção de linguiça" —ou de outra coisa, como Angélica entrevistando Otávio Mesquita (sic), ambos casualmente usando camiseta de cervejaria, e ela —a paulista do ABC— com o mais inverossímil sotaque carioca: "Otávio, moshtra seu samba no péa! Nossa, gentchea!".
É ruim, hein?

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