São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Mudança no câmbio acelera fuga de capital especulativo

GUSTAVO PATÚ; ALBERTO FERNANDES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A nova política de câmbio do Banco Central produziu, nos primeiros dias de sua implantação, resultados inversos aos desejados pelo governo. Aumentaram as saídas de capital especulativo e as exportações, ao invés de subirem, tiveram ligeira queda.
Segundo o BC, a média diária de saída de capital financeiro, principalmente das Bolsas de Valores, subiu de US$ 153,6 milhões, na semana passada, para US$ 160,8 milhões no movimento de segunda e terça-feira —alta de 4,7%.
Utilizando o mesmo período de comparação, as entradas de dólares no país através de exportações caíram 1%, de US$ 193,3 milhões para US$ 191,5 milhões.
Embora seja um período curto para conclusões, os próprios técnicos do Ministério da Fazenda e do BC avaliam que essa tendência se manterá enquanto o mercado continuar confuso sobre a evolução do dólar.
A dúvida entre os operadores de câmbio, até ontem não esclarecida pelo BC, é como a cotação do dólar chegará a R$ 0,93 em maio —o "ponto de equilíbrio" já definido pelo BC para o mês.
A indefinição atual fez os exportadores se retraírem, aguardando uma alta do dólar para fechar negócios em melhores condições.
Já os investidores financeiros têm acelerado as remessas ao exterior aproveitando enquanto o dólar ainda está abaixo de R$ 0,90.
A nova política cambial estabeleceu o chamado sistema de bandas. Ou seja, o dólar passa a variar entre um piso de R$ 0,86 e um teto de R$ 0,90. Em maio, o teto subirá para R$ 0,98.
O BC, porém, cometeu um erro de comunicação ao lançar a nova política: não esclareceu de imediato que o teto atual será elevado ainda antes de maio, e não definiu até agora como isso será feito.
Em consequência, o dólar teve alta brusca anteontem e bateu na casa dos R$ 0,90. O nervosismo do mercado afetou os exportadores e os investidores externos.
Para o exportador, quanto mais alto o dólar, mais vantajosa é a venda externa. A expectativa de uma alta contínua do dólar fez com que as empresas suspendessem as operações de ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio, instrumento de financiamento às exportações).
No caso dos investidores externos, como os das Bolsas, importa saber quantos dólares podem ser comprados com os reais que eles têm hoje aplicados no país. Portanto, o mais seguro é sair do mercado agora, enquanto o dólar não sobe mais.
Na avaliação do BC, o mercado operou ontem mais tranquilo, porque já é consenso que haverá uma elevação do piso de R$ 0,90 antes de maio. Falta, porém, saber que critério será usado para valorizar gradualmente o dólar.

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