São Paulo, quinta-feira, 9 de março de 1995 |
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"Farinelli" mixa vozes femininas e masculinas O diretor musical diz como criou o som de um 'castrato' PAULO GRAMADO
"A princípio tínhamos três alternativas: escolher a voz de uma mulher, de um homem ou tentar criar uma voz sintética, a partir da voz humana. Nenhuma das formas foi aprovada. Então fizemos a montagem, com conteúdo sintético", disse. Maestro e cravista, Rousset, nascido em Avignon, França, está no Rio para promover o lançamento de "Farinelli", previsto para estrear dia 17. Folha - Como foi seu trabalho no filme? Christophe Rousset - Quando fui contratado o roteiro já havia sido escrito, especialistas em música já tinham vasculhado o repertório e a grande questão era encontrar a voz de Farinelli. Refiz em parte a escolha do repertório e de alguns arranjos. O mais importante do trabalho foi a montagem. Gravamos todo o repertório com a voz feminina e depois com a masculina para fazermos a junção. Foram 3.000 pontos de corte para chegarmos à forma definitiva. Isto para quase uma hora de música. Folha - Um sucesso nas proporções que "Farinelli" vem alcançando (dois prêmios César na França, indicação ao Oscar) era esperado? Rousset - Não esperava indicação ao Oscar. Todos tinham certeza que o assunto apaixonaria as pessoas. A reconstituição histórica é fascinante, embora seja uma ficção. A frequência ao filme é colossal. Para se ter uma idéia, em dois meses foram vendidos 300 mil discos da trilha sonora na França, mais do que vendeu Elton John. Folha - Este sucesso não seria decorrência do interesse pelo lado bizarro do personagem em vez de interesse pelo teor histórico ou musical da trama? Rousset - É uma conjunção de fatores. O assunto é interessante, os costumes, a música, tudo é belo. A cena mais bonita do filme é o momento da castração e a música que passa toda emoção ao espectador. Os castrados eram muito procurados pelas mulheres. Embora estéril, tinha ereção mais tempo que o normal. Eram considerados amantes maravilhosos e ganhavam presentes, jóias. Independentemente de sexo, o castrado desencadeava uma série de sentimentos através da voz. Folha - Quais são as fontes históricas para a pesquisa musical sobre os "castrati"? Rousset - Livros alemães do fim do século 19, como a biografia de Farinelli, uma gravação sem qualidade de Moreschi, um famoso tenor castrado, que mal dava para ouvir e vasto material que pode ser encontrado em qualquer biblioteca. Basta procurar Farinelli. O resultado é um chute, uma dedução de como seria a voz do castrado, que não se sabe mais passados tantos anos. Texto Anterior: Hui é homem das mil faces Próximo Texto: Arte conceitual faz renascimento português Índice |
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