São Paulo, quinta-feira, 9 de março de 1995
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Sílvio de Abreu perde o medo do teatro

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

Peça: Capital Estrangeiro
Texto: Sílvio de Abreu
Direção: Cecil Thiré
Com: Edson Celulari e Patrícia Travassos
Quando: a partir de amanhã. Quintas e sextas, às 21h, sábados, às 20h e 22h, e domingos, às 19h
Onde: teatro Bibi Ferreira (av. Brig. Luiz Antônio, 931, tel. 606-0572)
Quanto: de R$ 15,00 a R$ 20,00

Sílvio de Abreu morria de medo de fazer teatro. Depois de 30 anos de carreira, o ator Edson Celulari o convenceu a fazer para ele um texto.
Para quem via nos textos teatrais uma arrogância só permitida a mestres como Tchecov e Molière, fazer uma comédia de costumes era um desafio no mínimo apavorante.
"Apavorante e prazeiroso ao mesmo tempo, tive medo de perder minha espontaneidade na criação." Para ele, fazer teatro é algo de muita responsabilidade porque é uma arte que se relaciona intimamente com a literatura. "E a literatura é para poucos."
"Capital Estrangeiro" é a história de um paulista machão e de uma carioca que fazem de tudo para enriquecer através de falcatruas e malandragens.
A peça tem um contexto histórico, é o Brasil dos anos pós-Collor. O casal era beneficiário do governo corrupto que acabou e, agora, a ruína financeira o espera.
Como último recurso aparece a solução: entregar a esposa para um conde italiano. "A idéia de prostituição econômica toma um aspecto mais amplo, de prostituição cultural", diz o ator Edson Celulari.
Segundo ele a peça foge da simples caricatura de estereótipos. "Quisemos criar personagens completamente amorais, para fazer comédia e não sátira social ou política."
Celulari, que já havia trabalhado com Sílvio de Abreu em novelas como "Cambalacho" e "Sassaricando", sentiu-se desafiado a fazer um papel cômico no palco. "A comédia é o amadurecimento do artista, cheguei num ponto da minha carreira em que é necessário fazer isto", diz ele.
Seus outros trabalhos em teatro eram caracterizados pela trama dramática. Participou de "Fedra", "Hamlet" e "Calígula". "O texto de Camus foi um salto, e amadureceu em mim a vontade de fazer o público entrar numa catarse, só que desta vez em gargalhadas."
O ator não se considera fora da TV, apesar de longa ausência. Ele começa a gravar a série "Decadência", de Dias Gomes, ainda sem data prevista para entrar no ar.
Um dos medos de Sílvio de Abreu era fazer um texto teatral com cara de novela. "Minha vergonha vinha da responsabilidade que se cria quando se conquista um nome fazendo alguma coisa, para todos os efeitos eu sou um escritor de novelas engraçadas", diz Abreu.
"Capital Estrangeiro" parece ter ficado mais teatral do que seu diretor imaginava. A peça está concorrendo a 3 prêmios: o Mambembe, o Shell e o Molière.
"Confesso que chamei meus amigos para trabalhar comigo", diz Celulari. A direção da peça é de Cecil Thiré.
"Capital Estrangeiro" estreou em outubro de 94 no Rio e se apresentou em Ilhéus, Salvador, Santos e Campinas. "O que me impressionou não foi o sucesso, e sim a identificação do público com um humor tipicamente paulista", diz Abreu.

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