São Paulo, quinta-feira, 9 de março de 1995
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Manobra suspeita

O resultado da reunião da bancada peemedebista anteontem suscita reflexões sobre a distância entre manifestações oportunas e oportunistas dos parlamentares.
O maior partido do Congresso quer que o governo apresente provas de que a abertura econômica não vai colocar o Brasil no caminho do México. É certo que o Legislativo não existe para chancelar medidas do Planalto. Ademais, a reforma é complexa o suficiente para admitir um extenso debate político.
Essas ressalvas se limitam, porém, à ordem da razão —isto é, soam ingênuas para os acostumados a lidar com a "realpolitik" brasileira. Ontem, parlamentares que supostamente apóiam Fernando Henrique Cardoso anunciavam que não há base governista no Congresso e que a aprovação das reformas terá de ser obtida "voto a voto".
Ou seja, partidos que têm o poder de conduzir a vida nacional e lançam candidatos à Presidência da República estariam admitindo que não têm política para o país. Isso para dizer o menos, pois o observador experimentado tende a considerar a hipótese de que engrossou o caldo de cultura do fisiologismo.
A crise financeira mundial —a latino-americana em particular— diminuiu a reserva de tempo de que o governo dispunha para tocar as reformas da Constituição. O estoque de dólares para ancorar a moeda também começa a ser ameaçado. A premência do calendário tende a diminuir o cacife de negociação do Planalto. Para piorar, o próprio Executivo abriu a possibilidade de mediar o diálogo com os deputados escorado em reservas que pretende manter altas até a votação de suas propostas: os cargos no segundo e terceiro escalões.
Apesar do desalento de ver o Legislativo começar suas atividades com algumas atitudes que lembram a desastrosa legislatura anterior, espera-se que os parlamentares exibam pelo menos um espírito de autopreservação menos mesquinho. Dada a magnitude da crise que talvez se avizinhe, devem considerar que está em questão não apenas o sucesso do plano econômico, mas a chance de modernizar o país e retomar de vez o crescimento.

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