São Paulo, quinta-feira, 9 de março de 1995
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Irresponsabilidade

A Prefeitura de São Paulo ofereceu ontem um exemplo surpreendente e acabado de falta de senso de oportunidade. Mais, de falta de senso de responsabilidade.
O secretário municipal de Transportes, Walter Coronado Antunes, afirmou que a tarifa de ônibus na cidade deve ser aumentada de R$ 0,50 para R$ 0,65 em 1º de maio —majoração de nada menos do que 30%. Segundo ele, essa será aproximadamente a inflação acumulada desde o último aumento das passagens no município.
Chama desde logo a atenção o despropósito de avisar agora sobre um aumento que se considera fazer daqui a quase dois meses. Agora, quando o país atravessa um período de especial turbulência, no qual todo empenho em prol da estabilização é mais do que necessário.
Mas não é apenas o "timing" da prefeitura que merece reparos. É também a própria idéia. A afirmação do secretário de que estaria meramente repassando o IPC-r repete o velho argumento da indexação que manteve o Brasil na superinflação por tanto tempo. Precisamente o tipo de atitude de que o país precisa se livrar para controlar o dragão de modo duradouro.
Não há sentido em corrigir certo preço pela variação média da economia; é preciso avaliar a evolução dos seus custos específicos. E, no caso dos ônibus, é altamente questionável que o aumento pretendido pela prefeitura seja justificado.
Os preços dos combustíveis continuam estáveis —até caíram— desde o real e peças de reposição aparentemente subiram pouco (de resto, representam apenas cerca de 5% da composição da tarifa). Já a mão-de-obra, que deve sofrer correção em maio, responde por aproximadamente 60% do custo total da tarifa. Portanto, mesmo uma majoração de 30% nos salários jamais justificaria um aumento de 30% no preço final das tarifas.
O intempestivo anúncio não causou dano apenas à imagem da prefeitura. Prejudicou também todo o esforço de combate à inflação e de busca da estabilidade no país.

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