São Paulo, quinta-feira, 9 de março de 1995
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Vem, presidente, vem

CLÓVIS ROSSI

COPENHAGUE — Era uma vez um presidente que disse, em seu discurso de posse, que a questão social seria a sua prioridade número um. Aí, o mundo organiza uma conferência de cúpula sobre a questão social. O presidente comparece, certo?
Era uma vez um presidente (o mesmo) cujo chanceler anunciou que o novo governo praticaria a "diplomacia presidencial". Em outras palavras, o próprio presidente se incumbiria dos grandes contatos internacionais, do diálogo direto com os chefes de Estado/governo.
Aí, o mundo organiza uma conferência à qual comparecerão 114 chefes de Estado ou governo (115 se se contar Fidel Castro, que nunca antecipa se vem ou não). O presidente da "diplomacia presidencial" comparece, certo?
Errado em ambos os casos, se o presidente se chamar Fernando Henrique Cardoso, o homem dos dois "era uma vez" anteriores.
Não dá para entender por que FHC não veio. A desculpa oficial é frágil. Alega que sua prioridade, agora, são as reformas constitucionais. Tudo bem. Ocorre que a participação dos chefes de governo/Estado na cúpula será apenas de sexta-feira a domingo.
Ora, de sexta a domingo, o Congresso Nacional nem sequer se reúne. Logo, menos ainda vai discutir o que quer que seja, a menos que tenha ocorrido alguma revolução desde que viajei na quinta-feira passada.
Vamos até esquecer o social, a "diplomacia presidencial", e pensar apenas em termos de imagem, de comunicação, parte indissociável da função de governar (aliás, hoje, os governantes mais se comunicam do que governam).
Pois bem: estão credenciados para a cúpula 2.818 jornalistas do mundo todo, loucos para entrevistar alguém que diga coisa com coisa (goste-se ou não delas), o que está se tornando raro entre os altos funcionários do planeta ultimamente.
Se esse alguém, ainda por cima, é capaz de se expressar em inglês, francês e espanhol, idiomas predominantes, é a sopa no mel, especialmente para a TV. FHC consegue fazê-lo. É desperdício de talento ou falta do que dizer?

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