São Paulo, quarta-feira, 15 de março de 1995
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FHC distribui cargos e aumenta a crise

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A partilha de cargos públicos entre os partidos governistas, longe de pacificar, está provocando uma guerra de bastidores entre os aliados do Palácio do Planalto.
Estão em disputa cerca de 5.000 postos, dos quais cem serão preenchidos numa primeira fase. Preocupado em assegurar apoio às reformas constitucionais, o presidente Fernando Henrique Cardoso, 63, resolveu acelerar o preenchimento dos cargos federais. Os primeiros movimentos apenas intensificaram a crise.
Um exemplo: o ministro da Agricultura, José Eduardo de Andrade Vieira, decidiu trocar o delegado regional de sua pasta em Santa Catarina. Nomeou para o posto Roberto Zimmerman, ligado ao PTB, o seu partido.
O problema é que não há no Congresso um único petebista catarinense. Ou seja, a mudança feita pelo ministro não produziu votos. Pior: o PMDB do Estado, que se considerava dono da vaga, está enfurecido.
O PFL, que também se julgava com chances, alfineta Andrade Vieira pelos corredores. O catarinense Jorge Bornhausen, presidente do PFL, é um de seus críticos. Acha que movimentos como o do ministro da Agricultura contribuem para erodir o prestígio do governo no Congresso.
No Pará, o governo decidiu prestigiar o governador Almir Gabriel, do PSDB. Ele indicou Fernando Flecha Ribeiro para dirigir a Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia).
Como o PTB catarinense, o PSDB do Pará não elegeu nenhum senador. Também neste caso, o governo não encheu o seu cesto de votos. E, para complicar, deixou abespinhado o senador paraense Jáder Barbalho, líder do PMDB, dono da maior bancada no Senado.
A resposta de Barbalho foi desastrosa para o governo. Sob sua liderança, aprovou-se no Senado, semana passada, o projeto que limita a cobrança de juros reais a 12% ao ano.
Em seus diálogos reservados, o ministro do Planejamento, José Serra, identifica, com uma ponta de ironia, o governista Jáder como um dos opositores mais ativos do governo no Congresso.
Para tentar remediar a situação, FHC incluiu Jáder na lista de senadores que receberá hoje a noite no Alvorada, para um jantar. Além de Jáder, dividirão a mesa com o presidente: o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Roberto Requião (PMDB-PR).
ACM, a propósito, é protagonista de outro caso em que o governo meteu os pés pelas mãos na partilha de cargos. Nomeou-se para a diretoria de Crédito Rural do Banco do Nordeste Jeferson Albuquerque, apadrinhado do governador do Ceará, Tasso Jereissati.
Como Albuquerque trabalhava na superintendência do banco na Bahia, o governo tentou vender a sua indicação como parte da cota do PFL baiano de ACM e de seu filho, o presidente da Câmara Luís Eduardo Magalhães. Os dois não aceitaram.
Junto com eles reagiram os governistas do Maranhão e do Piauí, que também reivindicavam a vaga.
Em compensação, no preenchimento dos cargos disponíveis nas 27 subsidiárias da Telebrás -as cobiçadas "teles"-, há um personagem intocável: o engenheiro Sizuo Arakawa, presidente da Telebahia. Apadrinhado de ACM, Arakawa, há dez anos no cargo, é elogiado pelo ministro Sérgio Motta (Comunicações).
Incumbido de administrar os pedidos dos partidos, encaminhados ao Planalto pelos presidentes das legendas, o chefe do Gabinete Civil, Clóvis Carvalho, está no centro do tiroteio. Transformou-se em alvo preferencial do Congresso nos últimos dias.
Em seus diálogos privados, Clóvis diz que não tem feito nada além de submeter as reivindicações dos partidos ao presidente, dono da palavra final. Seu mais novo inimigo é Luís Henrique, presidente do PMDB.
Em conversa com Fernando Henrique, o deputado pediu a manutenção de Renato Archer na presidência da Embratel. A história vazou para a imprensa. Luís Henrique responsabiliza Carvalho.
Aborrecido, o deputado mandou os currículos que estavam em seu poder para o líder do governo na Câmara, o também peemedebista Luiz Carlos Santos (SP). Disse-lhe que não encaminhará mais nenhum pedido de cargo.

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