São Paulo, quarta-feira, 15 de março de 1995 |
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Dois CDs mostram composições inspiradas na literatura francesa
IRINEU FRANCO PERPETUO
Nada mais adequado que a interpretação de duas artistas francesas como esta contralto de 30 anos e timbre grave e sua acompanhante, a pianista Catherine Collard. A entonação francesa é fundamental, por exemplo, nas "Histoires Naturelles", de Ravel, em que a prosa de Jules Renard é mais declamada que propriamente cantada. Forte elemento declamatório também está presente nas "Chansons de Bilitis", de Debussy. O compositor francês se interessava muito por literatura, como demonstra sua obra mais célebre, o "Prélude à l'Après-midi d'u Faune", tradução sinfônica do poema de Mallarmè. Mas a identificação mais forte da música de Debussy é com a poesia de Paul Verlaine. Já foi destacada, por exemplo, a identidade existente ente o "classicismo crítico" de música para piano de um e a produção poética de outro. A parceria aparece em "Ariettes Oubliées", pequenas peças extremamente expressivas, embora anteriores ao pleno desenvolvimento da sonoridade debussyana. Completam o disco os "Cinq Pràmes de Baudelaire", ciclo composto entre 1887 e 1889, época em que Debussy descobriu a obra de Richard Wagner e que é, sintomaticamente, plenamente influenciado pelo compositor alemão. Há até, como em "Tristão e Isolda", uma "Morte dos Amantes". Mas a grande delícia é mesmo o segundo disco, inteiramente dedicada a Gabriel Faurè. O CD traz as "mélodies" de Faurè para poemas de escritores franceses como Théophille Gautier, Leconte de Lisle e Verlaine. A voz cinzenta de Stutzmann traz melodias que parecem brotar das harmonias do piano de Collard. É impossível descrever as 28 faixas do disco. Tente, entretanto, a exuberante evocação de maio ("Mai", de Victor Hugo), ou a pungente "Tristesse", de Gautier. A lamentar, apenas, o extremo mau gosto das fotos da Stutzmann que aparecem nas capas dos discos lançados. Depois de transformar a canadense Ofra Harnoy em uma "piranha do violoncelo", a RCA Victor parece querer conferir à contralto francesa o "look" "perua básica". Com uma terrível camisa estampada no disco de Ravel e Debussy, Stutzmann é reduzida, no de Fauré, a mero êmulo de Rosana: chapelão e vestes negras. Discos: Debussy-Ravel Mélodies/Fauré Mélodies Lançamento: RCA Victor/BMG Ariola Preço: R$ 22,00 (o CD, em média) Texto Anterior: Cineasta nigeriano recupera cultura ioruba Próximo Texto: Veneza comemora centenário com quatro de suas cinco mostras Índice |
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