São Paulo, quarta-feira, 15 de março de 1995
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Balé Real Sueco procura "príncipe" brasileiro

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na temporada que realizará no Teatro Municipal de São Paulo, de 5 a 7 de outubro, o Balé Real Sueco mostrará um clássico singular. Não será russo nem francês, estilos que influenciaram a maioria das grandes companhias.
Para a temporada brasileira, o diretor artístico da companhia Simon Mottran escolheu uma versão integral de "O Lago dos Cisnes" que, segundo ele, é a produção mais completa e harmoniosa do repertório do grupo.
Todas as récitas, em São Paulo, terão com música ao vivo, de autoria de Tchaikovsky, interpretada pela Orquestra Sinfônica Municipal.
"É perigoso definir. Mas, acima de tudo, diria que nosso estilo é sofisticado. Inclui o melhor do russo, francês, americano e canadense. À essa mistura, somamos a personalidade, as características do povo sueco", disse Mottram, em entrevista exclusiva à Folha, por telefone.
Desde 1993 dirigindo o grupo oficial da Suécia, o inglês Mottram, 58, realizou bem-sucedida carreira como bailarino. Depois, ganhou prestígio como professor, trabalhando com importantes companhias, como a Nederlands Dans Theater.
Na visita que fará ao Brasil, acompanhando os 60 bailarinos do Real Balé Sueco, Mottran também pretende descobrir um "príncipe" entre os bailarinos brasileiros.
Em busca de um intérprete que se ajuste aos personagens das obras clássicas que o grupo sueco produz, Mottran comenta que, uma vez encontrado tal "príncipe", poderá absorvê-lo ao elenco.
Revelar novos talentos, tanto bailarinos como coreógrafos, é uma das preocupações de Mottran. Embora conte com os melhores criadores da Europa, ele realiza workshops anuais para estimular a criatividade entre os próprios integrantes de seu elenco.
No entanto, ele não acredita que um bom bailarino possa ser transformado em um bem-sucedido coreógrafo. "Bons coreógrafos são raros. Ninguém faz um coreógrafo, cujo talento é nato."
Por tradição, Mottran tem que cultivar um repertório clássico no Real Balé Sueco, que já produziu quase todas as grandes obras, como "Giselle", "Coppelia", "A Bela Adormecida", "Romeu e Julieta".
Paralelamente, o grupo também convive com criadores contemporâneos, desde que fundamentados na técnica clássica. Nesse caso, procuram se servir do melhor.
Entre os coreógrafos que já trabalharam com o Real Balé Sueco estão Maurice Béjart, George Balanchine, Jiri Kylian, Alvin Ailey, William Forsythe, John Neumeier, Glen Tetley, Rudi van Dantzig.
O Balé Real Sueco conta com uma estrela absoluta: Anneli Alhanko que, em 1990, foi condecorada pelo rei Carl Gustaf como Bailarina da Corte. Filha de diplomata, Anneli nasceu em Bogotá, Colômbia, onde viveu até os três anos de idade. De ascendência russa, chegou a estudar na escola do Ballet Kirov, em São Petersburgo.
Em 1972, Annoli conquistou medalha de prata no exigente Concurso internacional de Varna, Bulgária, que costuma ser decisivo na carreira de grandes bailarinos.
Hoje, ela é considerada uma das melhores bailarinas líricas do mundo. Contudo, procura ser versátil, interpretando variadas obras de coreógrafos contemporâneos.
Em "O Lago dos Cisnes" que será encenado em São Paulo, Anneli se revezará nos duplos papéis de Odete e Odille, cujas ambiguidades desafiam a capacidade de interpretação de todas as bailarinas.
Embora se considere uma genuína bailarina sueca, Anneli admite sua grande admiração pela escola russa de balé.
Sempre que tem oportunidade, ela dança como convidada nos Teatros Kirov e Bolshoi, de Moscou. "Acho que toda bailarina sonha em dançar nestes dois palcos e sentir os contrastes entre a imensidão do Bolshoi e a elegância do Kirov", diz.

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