São Paulo, quarta-feira, 15 de março de 1995
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São Paulo City

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

SÃO PAULO — Enquanto nosso —à revelia— Jean-Paul Sartre reafirma não ser encanador, mas vê-se às voltas com vazamentos de informações sobre o câmbio (na era da informatização e do celular, maravilhas podem ser feitas nesse ramo), os habitantes de São Paulo vivem problema oposto: não têm para onde vazar.
A cidade transformou-se num mega-engarrafamento, provando que nossas afinidades com o México —cuja capital é conhecida pelo trânsito infernal— não são tão longínquas assim.
Andar de automóvel em São Paulo é um exercício de paciência capaz de levar à exasperação o mais dorminhoco dos monges do Tibete. Em dias de chuva, a impaciência transforma-se em pânico. Em minutos, a cidade ganha ares de uma Veneza "Blade Runner".
O motorista é obrigado a transformar-se num herói. "Conseguirei evitar que meu carro seja inundado?" "Que seja arrastado pelos rios que aparecem nas avenidas?" "Sairei vivo dessa?"
O mais irritante é que São Paulo está coalhada de obras —todas para atender a voracidade dos automóveis. É túnel para cá, viaduto para lá, pontes, mudanças de fluxo... Mas nada que leve à conclusão de que o drama está sendo equacionado.
Ao contrário, têm-se a cristalina sensação de que, a custos elevados, está-se adiando uma solução inadiável: São Paulo precisa de metrô. Não há como escapar da evidência. Se o Metrô é do Estado, se a Prefeitura não tem nada a ver com isso, bem... e nós?
O que os habitantes de São Paulo —que são a base de um gordo Orçamento— querem, e merecem, é que a cidade, tão orgulhosa de seus supostos traços de "Primeiro Mundo", permita a continuidade da vida humana em condições mínimas de qualidade.
Infelizmente, governo e prefeitura não dão sinais de que o futuro possa ser melhor.

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