São Paulo, quarta-feira, 15 de março de 1995
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A idéia é boa

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — A partir de hoje, o diploma ficou menos importante. Quando procurar um médico, dentista, engenheiro ou advogado, formados este ano, melhor vasculhar na parede do escritório ou consultório por outro atestado mais valioso.
Essa é, em essência, a consequência prática ao cliente de uma medida formalizada ontem pelo Ministério da Educação. Prepare-se: vai ter muita pancadaria, lançada pelas universidades. Reafirmo a posição desta coluna, sem entrar no mérito do seu detalhamento: a idéia é muita boa.
O ministro Paulo Renato Souza revelou os detalhes de medida provisória exigindo teste que vai afetar todos os estudantes que concluírem faculdade pública ou privada. Começa este ano para alunos das áreas de direito, medicina, odontologia e engenharia.
O exame final não impede que o aluno tire seu diploma e saia por aí trabalhando, mesmo ganhando nota zero —o governo encontrou dificuldades jurídicas para implantar essa obrigação. Mas, na prática, cria-se um instrumento de defesa do cidadão: se ele não for, digamos, um "pato", vai se interessar pelo diploma do médico ou dentista que está consultando. Mas também (e sobretudo) pela nota que ele teve no exame final.
Gostaria de ouvir um único argumento sério capaz de demonstrar por que o cidadão não estaria mais protegido conhecendo um pouco melhor o histórico escolar do profissional que contrata. Posso, porém, enumerar rapidamente dez argumentos escroques para justificar por que um aluno relapso ou faculdade ruim não apreciaria essa peneira —todos, claro, em prejuízo da sociedade.
Se o dinheiro público está formando candidatos a debilóides profissionais nessa ou naquela faculdade, dane-se: pare-se de dar dinheiro ou se exija que, num prazo curto, ajeitem seus professores, currículos, laboratórios, bibliotecas e alunos.
Vá lá que se defenda o ensino superior gratuito (idéia que aceito parcialmente). Mas lutar contra a avaliação de uma sociedade que patrocina os gastos é ir longe demais. É, em suma, a versão acadêmica da impunidade.

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