São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 1995
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Jantar teve momentos de tensão e bom-humor

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O jantar do presidente Fernando Henrique Cardoso com nove senadores teve momentos de tensão, constrangimento e também de muito bom humor. O momento mais tenso ocorreu quando o líder do PMDB, Jáder Barbalho (PA), falou sobre a fidelidade do partido ao governo.
"O PMDB nunca foi testado se é ou não é governo. No caso do tabelamento dos juros (12% ao ano), ninguém pediu para votar contra", comentou Jáder. FHC contestou: "Todos sabiam que era importante para o governo (votar contra)".
O senador Gilberto Miranda (PMDB-AM), que articulou o jantar, procurou descontrair o ambiente: "Nós só votamos contra para dar uma sacaneada." O presidente completou: "O dia é que foi inadequado. Teve muita repercussão na áera econômica."
Miranda insistiu com outra brincadeira: "O Jáder falou que quer namorar e ir para a cama. Este negócio de namorar só pegando a mão não funciona."
O momento de constrangimento foi provocado pelo senador pefelista Antonio Carlos Magalhães (BA). Ele prometeu apoio do seu partido ao presidente. Mas não perdeu a oportunidade para alfinetar os peemedebistas presentes: "Só não sei do PMDB."
Os senadores degustaram uma carne enrolada com linguiça e um ensopado de camarão miúdo, regados a vinho branco nacional de má qualidade, segundo um dos presentes.
Inveja de ex-presidente
A conversa só ficou descontraída quando todos foram para a área da piscina. Antonio Carlos Magalhães ficou entusiasmado: "Nunca vi um tipo de conversa como essa, tão aberta, tão franca, com nenhum presidente."
O ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) não gostou do comentário e reclamou: "Baixa um pouco Antonio. No meu tempo também tinha isso." ACM foi ministro das Comunicações no governo Sarney.
O hoje presidente do Senado, José Sarney, também ficou incomodado quando o tema da conversa foi nepotismo no Congresso.
FHC elogiou o discurso no qual ACM falou do nepotismo no Judiciário, mas completou: "O Senado também precisa corrigir isso. Não pode continuar esta contratação de parentes nos gabinetes. Fica mal para a Casa."
Fernando Henrique, contudo, tratou de amenizar a espetada, lembrando que jamais comentou com alguém que ficara magoado com Sarney, por ter colocado em votação o projeto dos juros de 12%. "A imprensa inventou essa história", disse o presidente.
Roberto Requião (PMDB-PR) aproveitou para comentar reportagem da Folha onde o senador Gilvan Borges (PMDB-AP) justificou a contratação da mulher e da mãe. "Ele disse que dorme com uma e que foi parido pela outra".
Sarney saiu em defesa do afilhado político. "Ele é uma pessoa simples. Acho que estaria fazendo uma homenagem à mãe. Aquilo não pegou bem no Estado."
Sob a luz da lua
Mais tarde, Requião foi surpreendido por ACM enquanto olhava para os jardins do Palácio da Alvorada. "O Requião está pensando em morar aqui", brincou o senador baiano. "Não vou mais fazer estes jantares. Se a cada vez vir um com estes planos...", completou FHC.
No momento em que pedia apoio para aprovar as reformas constitucionais, FHC foi constestado por Josaphat Marinho (PFL-BA). "Em termos de reforma constitucional não tem apoio incondicional. Vale a consciência".
ACM ironizou o colega de bancada: "Tinha que ter alguém para discordar. Mas ele é o único que discorda, presidente." FHC minimizou a dissidência. "Respeito muito a posição do nosso professor (Josaphat é advogado constitucionalista)".
Mas a emenda só empolgou ACM: "Mas que professor. Professor na Bahia só tem um. Eu é que sou professor lá."
Requião voltou ao centro das atenções numa rápida conversa sobre articulação política. "Coloque o Requião como articulador. O que ele não resolve no papo ele resolve no tapa", disse, em tom de brincadeira, Gilberto Miranda.'
No jantar, Requião tentou resolver suas diferenças com FHC no papo. "O governo está mandando MP sem justificativa. Assim não pode." O presidente respondeu com ironia: "Faz igual a mim. Eu não leio as MPs. Se você não ler, não vai ficar sabendo que não tem justificativa."

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