São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 1995 |
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'Nell' economiza sentimentalismo barato na saga do Tarzã de saias
FERNANDA SCALZO
Produção: EUA, 1994 Direção: Michael Apted Elenco: Jodie Foster, Liam Neeson, Natasha Richardson Estréia: hoje nos cines Liberty, Olido 3, Eldorado 6 e circuito Jodie Foster concorre a seu terceiro Oscar por sua interpretação de Nell, a "boa selvagem". Espécie de Tarzã de saias (de saias, mesmo, porque a personagem não é incivilizada a ponto de andar nua), Nell cresceu numa cabana escondida no mato com a mãe. A mãe, que era civilizada até decidir se isolar do mundo por razões que o filme vai revelar, embora soubesse ler e escrever, era afásica (tinha problemas de fala). Assim, ensinou a filha a falar uma língua que é basicamente um inglês sem muitas consoantes. Ninguém entende. O espectador, menos ainda, pode entender por que inventaram uma história tão mirabolante assim. Mas este é apenas o começo da trama e nem é sua pior parte. "Nell", dirigido pelo inglês Michael Apted, é um filme que se revira para arrancar lágrimas em doses bastante precisas. O roteiro vai pra cá e pra lá, parece que para tentar evitar a pieguice. Coisa que em geral se esbanja, o sentimentalismo barato de "Nell" é econômico, comedido. Mas passa por todo o filme e tem seu auge na indefectível cena de julgamento. Jerome Lovell (Liam Neeson), médico da pequena cidade próxima à cabana de Nell, descobre a selvagem quando a mãe dela morre. Como não sabe bem o que fazer, pede ajuda à psicóloga Paula (Natasha Richardson), que trabalha no hospital da cidade grande. A psicóloga urbana com seu aparato tecnológico e o médico caipira com seu material humano vão se empenhar em "entender" e "incorporar" a selvagem. Claro que os dois insensíveis civilizados têm muito o que aprender com a rústica e inculta Nell. Jodie Foster torce a boca e vira os olhos para fazer uma "boa selvagem" ao mesmo tempo meiga e perturbada. É boa atriz, mas a personagem não convence. O roteiro não faz de Nell uma personagem verossímil do ponto de vista psicológico, nem do sociológico. A "boa selvagem" é apenas um pretexto para os civilizados derramarem seus clichês sobre o respeito ao outro. Mas Nell é tão improvável que faz o discurso soar ainda mais falso. Na esteira do eventual sucesso do filme, a editora Objetiva lança o livro adaptado do roteiro. Bom só para quem acha que afasia pode ser sinônimo de pureza. Texto Anterior: Amizade no infortúnio embala 'Sonho' Próximo Texto: 'Caro Diário' reinventa tradição italiana Índice |
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