São Paulo, sexta-feira, 17 de março de 1995
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Dane-se o cidadão

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — Nem sempre é fácil a vida de leitor. Há gigantescos e cansativos debates que, muitas vezes, podem ser resumidos em poucas palavras. Exemplo: a celeuma sobre a suposta necessidade de um coordenador político esconde, em essência, a exigência dos deputados e senadores por um despachante que cuide de seus pedidos no governo. O resto é firula.
É o caso também do teste final aos universitários, anunciado pelo Ministério da Educação. Reunidos ontem em São Paulo, os inconformados reitores de universidades federais esgrimiram argumentos com certa sofisticação —alguns mais serão criados nas próximas semanas, embebidos com uma pitada intelectual e acadêmica.
Se o leitor quiser economizar seu tempo ao aprofundar-se nesse debate, deveria ter em mente o resumo da ópera: os reitores, amparados pela União Nacional dos Estudantes, simplesmente não querem ser avaliados. O que é humanamente compreensível.
Primeiro, ninguém gosta de ser avaliado —isso porque implica eventual condenação. Segundo e mais importante: o teste final é capaz de dinamitar o prestígio das faculdades, criando uma crise.
Uma crise com múltiplas facetas, todas desagradáveis: 1) as notas baixas vão revelar a incompetência de alunos, professores ou reitores; 2) a faculdade começa a ser pressionada pelos alunos sérios e seus pais, temerosos de reprovação no teste; 3) a sociedade começa a questionar se não está jogando dinheiro fora para criar lesmas acadêmicas; 4) o Ministério da Educação pode ser pressionado a cortar verbas de determinadas faculdades; 5) o cidadão que não for uma lesma deve escolher um profissional usando a nota do exame.
Para evitar todos essas desagradáveis inconveniências, melhor, portanto, dinamitar a avaliação. E dane-se o cidadão que paga impostos.
PS — Em contato ontem com esta coluna, o ministro Pedro Malan reconheceu que houve falta de habilidade no anúncio das novas medidas do câmbio. Nada disso justificaria, segundo ele, mudanças em sua equipe, como indicam os boatos.

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