São Paulo, sábado, 18 de março de 1995
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Safra recorde traz prejuízo ao produtor

MARIJÔ ZILVETI
DA REDAÇÃO

A agricultura produz este ano uma safra recorde de 81,6 milhões de toneladas, segundo os dados divulgados pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), mas os agricultores vão sair dela mais pobres do que entraram. Esta é a previsão do cerealista José Pitoli, da Pitoli & Villela Ltda, de Cornélio Procópio, norte do Paraná.
Os que vão ter mais vantagens serão os que fizeram empréstimos para financiar o plantio no sistema de equivalência. Ou seja, quando fizeram o financiamento foi estipulada a quantidade de sacas de produto que deveriam pagar pelo empréstimo.
O recurso era pequeno e poucos foram os agricultores selecionados, diz Pitoli. O principal fornecedor de crédito pelo sistema de equivalência foi o Banco do Brasil, seguido dos bancos estaduais.
Pitoli faz o seguinte cálculo. O agricultor que tomou financiamento nos bancos privados para plantar milho em 50 alqueires, por exemplo, vai precisar desembolsar o equivalente a 11.423 sacas do produto para pagar seus custos (228 sacas por alqueire).
Já os agricultores, que no financiamento optaram pelo pagamento em equivalência de produto, vão entregar ao banco o correspondente a 7.247 sacas no total (145 por alqueire).
O financiamento de equivalência sai, portanto, 36% mais barato do que o feito pela Taxa Referencial. Os empréstimos em TR correspondem à variação deste indexador mais juros de 11% ao ano.
Nas contas de Pitoli, poucos agricultores vão conseguir obter lucros nesta safra. A produtividade média de milho no norte do Paraná é de 220 sacas por alqueire.
Os agricultores que optaram pela soja estão na mesma situação, diz Pitoli. Quem financiou o plantio de 100 alqueires no norte do Paraná vai gastar o equivalente a 90 sacas para pagar o financiamento, se tomou o empréstimo pela correção da TR.
Pela equivalência, os gastos serão equivalentes a 81 sacas por alqueire. A produção média da região é de 110 sacas por alqueire.
Os dispêndios com o financiamento, somados aos demais custos e queda de preços em relação ao ano anterior, farão com que pouco reste para o agricultor, diz Pitoli.
O mercado trabalha hoje com os menores preços dos últimos anos. O valor pago ao produtor pela saca da soja está 14% inferior ao de 17 de março de 94. No caso do milho a queda no preço é de 2%.
(MZ)

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